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janeiro roxo 30.01.2024 | 18h50

Desinformação ainda é obstáculo para diagnóstico e tratamento de hanseníase

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Mariana da Silva - Especial para o GD

redacao@gazetadigital.com.br

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Apesar de Mato Grosso possuir uma das maiores taxas de detecção de hanseníase do país e ser reconhecido como hiperendêmico, pouco se fala sobre a doença e muitos sequer compreendem como se contrai, quais os sintomas e como prevenir.

 

Conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT) foram diagnosticados em Mato Grosso 2.496 casos de hanseníase

em 2020, 2.099 casos em 2021, 2.375 em 2022 e dados parciais de 2023 apontam para 4.212 casos. 

 

Embora os avanços na medicina tenham se consolidado com o tempo, a doença possui histórico milenar de estigmas sociais que perduram desde os registros bíblicos. A falta de informação correta e amplamente disseminada ainda pode ser um obstáculo para quem busca por ajuda e tratamento.

 

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“Eu já tinha ouvido falar disso, mas era antigamente conhecido como lepra. Eu não conhecia ninguém que tivesse, nem na família”, recorda a dona de casa Edneuza Pereira Brautigan, 62.

 

Ela descobriu, em 2018, que estava com hanseníase após uma suspeita de fibromialgia. “Minhas pernas começaram a travar e eu não conseguia andar. Minha filha ficou preocupada e me levou ao hospital para consulta”, relata. Devido aos sintomas, ela foi encaminhada para uma médica que realizou testes e foi constatada a hanseníase.

 

Apesar dos desafios, ela conta que todos da família deram apoio e que o afastamento não foi necessário, pois estava cumprindo corretamente o tratamento, que consistiu em tomar um coquetel de medicamentos durante um ano. “As pessoas que conviviam comigo não tinham a possibilidade de pegar e nem preconceito”, afirma.

 

Edneuza conta que hoje está bem de saúde e finalizou o tratamento há 5 anos, mas teve sequelas na perna esquerda, pois descobriu a doença de forma tardia.

 

Já a advogada Ivani Mariani Vozniak, 49, descobriu que teve hanseníase com o surgimento de uma pequena mancha vermelha na parte de trás do braço, há cerca de 20 anos. Ela conta que não sentia nada no local da mancha, apenas amortecimento e a coceira. Com o passar dos meses, a lesão foi aumentando de tamanho e chegou a ficar com dez centímetros de diâmetro.

 

“Um dia fui no posto de saúde ver uma coisa do meu trabalho e vi na parede um cartaz mostrando o que era hanseníase, sintomas, fotos. Vi aquela foto e a mancha era igual à minha. Eu falei meu Deus, é isso que eu tenho, vou ter que ir ao médico”, conta.

 

Após consulta e feita a biópsia no local para exames, o resultado foi positivo. “Fiquei muito triste, abalada, porque a doença na época não era tão comum. Acredito que muitas pessoas tinham e nem faziam ideia, também acho que as pessoas não falam quando têm, é pouco divulgado. [...] Fui embora chorando do consultório porque eu não imaginava isso e não sabia como iria ser”, relembra.

 

Com o diagnóstico vieram os questionamentos sobre como pegou a doença, de quem, como e onde, já que não sabia muito sobre a enfermidade.

 

Apesar da preocupação, logo iniciou o tratamento, que durou 6 meses com medicamentos fortes e vitaminas. “No primeiro mês, a lesão já sumiu, não coçava mais. O médico explicou que tinha que ser seis meses, senão eu poderia ter o retorno da doença. Então eu fiz o tratamento certinho e nunca mais tive nada”, esclarece.

 

Importância da detecção precoce

Segundo o doutor em Ciências pela UNIFESP, Amílcar Sabino Damazo, a transmissão da hanseníase se dá pelas vias aéreas após convívio com uma pessoa doente e sem tratamento. A doença pode ficar incubada no corpo por anos até se manifestar, mas os primeiros sinais são muito sutis e podem ser confundidos com dormência nos braços e pernas, câimbras e sensação de choque.

 

Com o passar do tempo, pode ocorrer o espessamento de nervo e dor local, perda de sensibilidade e posteriormente o desenvolvimento de manchas como forma mais tardia da enfermidade.

 

 

Amílcar Sabino Damazo pesquisador hanseníase

 

De acordo com o especialista, o quadro de pobreza que afeta o estado de Mato Grosso é um importante fator para a propagação da doença, bem como a falta de saneamento básico, o que pode tornar o paciente mais suscetível à proliferação da micobactéria.

 

“Apesar disso, é importante ressaltar que Mato Grosso tem um alto índice de pacientes com hanseníase porque o estado possui profissionais bem capacitados e capazes de fazer a detecção da doença”, afirma o pesquisador.

 

“Outros estados possuem baixos índices, mas um alto grau de subnotificações. Isso pode ser verificado quando se avalia o índice de grau de incapacidades. Mato Grosso tem um baixo número, comparado a vários estados. O que indica que fazemos detecção precoce”, esclarece.

 

Como prevenção, é necessário fazer a busca ativa por pessoas doentes, para que elas possam receber a medicação, pois o tratamento é a única forma para que a cadeia de transmissão seja interrompida.

 

Entre os mitos e preconceitos comuns sobre a doença, o doutor Amílcar cita que as pessoas acreditam que a hanseníase pode ser transmitida pela pele. “Isso precisa ser desmistificado. A pessoa em tratamento não transmite a doença. Ela não pode ser discriminada. Isso é crime”, alerta.


“A hanseníase é uma doença que precisa ser combatida, da mesma forma, o preconceito e a desinformação precisam ser combatidos. A pessoa doente precisa de apoio, principalmente da família. Estando em tratamento, a doença não se propaga. Muitos pacientes com hanseníase desenvolvem sequelas. O apoio de amigos e família é fundamental para ajudar a pessoa a superar os problemas e as dificuldades”, finaliza.

 

Tratamento

Após o diagnóstico, o paciente começará a ser tratado de forma supervisionada. O que significa que o paciente tem que ir ao centro de saúde a cada 28 dias para receber a medicação e comprovar que está tomando diariamente toda medicação corretamente.

 

O tratamento pode durar de 6 meses a 1 ano, e pode ser prolongado, caso necessário. A medicação é gratuita e disponível nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). 

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