insegurança e abandono 11.05.2024 | 11h50

luizleite@gazetadigital.com.br
Luiz Leite
Uma extensa área verde localizada no centro de Cuiabá, carregada de histórias que remontam a origem da Capital, hoje sofre com o descaso e abandono. O parque Antônio Pires de Campos, popularmente conhecido como Morro da Luz, está tomado por lixo e é pouco, ou quase nada, aproveitado pela população. Com projetos de revitalização prometidos por vários gestores, o local não chegou a ver nenhuma execução das propostas apresentadas ao longo dos anos.
A equipe do
percorreu o parque em uma tarde de quinta-feira e se deparou com um ambiente vazio e silencioso, em contraste com o grande fluxo de veículos e movimento de pessoas nas avenidas Tenente Coronel Duarte (Prainha) e Coronel Escolástico, que circundam o local. Os extremos acentuam a sensação de insegurança para quem ousa se aventurar pelas trilhas do Morro da Luz, isso porque o local carrega um histórico de violência urbana.
Utilizado por pessoas em situação de rua, é conhecido como ponto de encontro de usuários de droga e também prostituição. Os espaços do parque estão tomados por entulhos. Dentre os itens encontrados pela reportagem estão embalagens de comida, copos plásticos, chinelos, sacolas, latas de bebidas, roupas usadas e embalagens de preservativo. Os restos desmontados de um ar condicionado usado também fazem parte do cenário abandonado.
Durante a visita da reportagem à escadaria principal do Morro da Luz, que liga a avenida Prainha, os fundos da antiga escola Nilo Póvoas e proximidades da Energisa, nenhum transeunte passava pelo local, até que duas mulheres descem as escadas. Uma delas é a professora Marlene, que revelou à reportagem que só se arriscou a descer os degraus por estar acompanhada da amiga e por verificar a presença da equipe no local. “Só desci porque minha amiga veio comigo e porque vi vocês aqui, não sei como não tem 'noiado' hoje aqui”, narra a professora ao relatar a frequente presença de usuários de droga ali.
Marlene cobra das autoridades maior empenho para revitalização do local e sugere a transformação em um ponto turístico, visando aproveitar a área verde e a bela vista para o centro da cidade.
Ela relembra o tempo em que o Morro da luz já foi melhor aproveitado, com comércio local e grande circulação de pessoas. “Eu andava muito aqui quando eu tinha por volta dos 15 anos, agora estou com 62. Era bonito, tinha lanchonete, você encontrava gente vendendo coisas, sentadas aqui, agora olha a imundice que está, o abandono”, reclama Marlene.
Aos pés da escadaria, os escombros de uma casa demolida guardam muito entulho e lixo. O forte cheiro de urina e fezes que tomam conta do local não impede a presença de 5 famílias venezuelanas que por ali vivem. A manicure Francis Acevedo, 41, mora há 3 anos em uma das casas abaixo do Morro da Luz e narra ao
suas preocupações, sendo a principal delas a falta de limpeza.
Francis conta que quando se mudou para o espaço, havia uma grande quantidade de pessoas em situação de rua, principalmente na escadaria. Porém, com o passar o tempo, a população se sem-tetos ali diminuiu. Ela atribui essa diminuição à presença de casas habitadas na região, bem como a existência de uma clínica odontológica nas proximidades.
“No sentido de segurança e roubo, graças a Deus tem sido pouco, não é como antes, agora as pessoas podem descer e subir. Muita gente passa, mas só agora. A gente colocou luz, porque eles (gestão pública) não vêm aqui colocar luz, a gente mesmo que tem que fazer com a ajuda do pessoal da clínica odontológica, eles ajudam a gente com a limpeza”, conta a imigrante.
Ela conta que além das 5 famílias estrangeiras, um brasileiro também divide espaço na pequena vila e narra que essa pessoa afirma que também irá embora caso essas famílias saiam dali. “Fica complicado de morar, mas para nós é econômico o aluguel e não tem outro jeito”, finaliza Francis, que pontua os benefícios de morar próximo à região central, mas reclama, mais uma vez, sobre a falta de cuidado e manutenção do local.
O comércio próximo à região também reflete o abandono. Com a grande quantidade de prédios comerciais fechados, que acabam servindo de abrigo para as pessoas em situação de rua, as poucas lojas que restam precisam se precaver com a segurança reforçada para evitar roubos. Um prédio comercial precisou ter as portas cimentadas para que não fosse utilizado como abrigo de pessoas em situação de rua e usuários de droga.
Colina salpicada de ouro
Tombado como patrimônio histórico pelo decreto de lei nº 870 de 13.12.1983, o Morro da Luz foi lugar de muito ouro nos anos de 1700 e marcou a origem de Cuiabá. Localizado nas proximidades da Prainha, principal avenida central da capital, o local foi descoberto por indígenas que acompanhavam o bandeirante Miguel Sutil, como conta o pesquisador Aníbal Alencastro.
Após a descoberta das minas de ouro na região, chamada de “minas do sutil”, o bandeirante informou à Capitania de São Vicente, hoje São Paulo, a descoberta de uma “colina salpicada de ouro”, conhecida como a maior mina de ouro do lado ocidental do tratado de Tordesilhas. “Essa parte toda do Brasil estava pertencendo aos espanhóis e com essas descobertas a coroa portuguesa teve interesse nessa colina”, diz Aníbal.
Colina esta que é retratada no brasão original de da Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, fundada em 1727 por Dom Rodrigo César de Menezes e seus mais de 3 mil homens, que através do Morro da Luz passaram a administrar o que seria a capital de Mato Grosso.
Cuiabá-MT de antigamente
Palácios das Águias, conhecido como prostíbulo que ficava nas proximidades do Morro da Luz
Originalmente chamado de Morro da Prainha, o local ganhou o nome de Morro da Luz no século XX, na gestão do então governador Mario Corrêa da Costa, isso porque no local foi inaugurada uma pequena casa, com subestação da Usina do Rio da Casca, sendo responsável por distribuir energia para toda a cidade.
Após o decreto de 1983 o local foi tombado como patrimônio histórico municipal e ganhou o nome de parque Antônio Pires de Campos, como uma homenagem ao filho do bandeirante Manoel Bicudo de Campos.
Ao longo de todos esses anos de história, o Morro da Luz passou por apenas uma grande revitalização, há 26 anos. Em 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desaprovou projeto da Prefeitura de Cuiabá que previa a construção de uma torre giratória de 180 metros e um edifício garagem no parque, em comemoração aos 300 anos de Cuiabá. O projeto foi amplamente comentado nas redes sociais e no meio político, com um polêmico empréstimo de U$ 115 milhões não autorizados a tempo das comemorações.
Chegando ao fim de mais uma gestão municipal, o Morro da Luz permanece sem melhorias em sua área verde e a escadaria, com 115 degraus, que outrora recebiam grande fluxo de pessoas, agora vislumbra apenas passos largos e apressados de quem desce e sobe o morro, na ânsia por preservar sua própria segurança.
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