MÊS DO ORGULHO LGBTQIA+ 20.06.2021 | 15h41
khayo@gazetadigital.com.br
No país que mais violenta a comunidade LGBTQIA+, a experiência de pessoas bissexuais é atravessada pelo processo de invisibilização. Longe de ser apenas mais uma letra na sigla, a parcela bissexual da população luta diariamente contra o estigma de quem prevê que estas pessoas tenham que tomar uma "decisão" sobre com qual sexo devem se relacionar.
Tendo que lidar com este formato particular de preconceito, muitas pessoas bissexuais optam por compartilhar sua orientação sexual - o ato de "se assumirem" - como se fossem gays ou lésbicas. O saldo negativo desse processo, contudo, são os diversos prejuízos à saúde mental a nível individual e o apagamento da bissexualidade na esfera coletiva.
Ao portal , a psicóloga Jéssica Costa contou que a vivência de seus pacientes raramente revela uma experimentação "natural" com a bissexualidade. À reportagem, ela compartilhou que muitas pessoas chegam ao consultório e narram o medo de se assumirem bissexuais e serem julgadas como "libertinas" ou "indecisas".
"Raramente com as pessoas que eu atendi foi natural. Existe, sim, as pessoas que encaram com naturalidade, principalmente as pessoas mais jovens que são dessa nova geração. Mas, em geral, na minha experiência, principalmente, porque eu atendia durante a faculdade na clínica, não é um processo fácil", disse.
"Principalmente para contar para os pai quando essa pessoa é jovem, seja ele adolescente ou adulto. Esse processo para contar para os pais é bem doloroso e, geralmente, a pessoa não se assume bissexual. Ela se assume LGBT e diz que gosta de meninas ou meninos, mas não vai falar 'sou bissexual", acrescentou.
A profissional, que é bissexual, também relatou que os efeitos negativos dessa invisibilização para a saúde mental dos pacientes podem perdurar por anos, sendo que em alguns casos o processo não é superado.
Ao portal, a psicóloga apontou que tem pessoas que demoram décadas para conseguirem se aceitar bissexuais, enquanto outras nunca conseguem compartilhar com a família e amigos.
À reportagem, a psicóloga explicou que a invisibilização é um dos elementos que compõem a bifobia e fez um alerta sobre a percepção que algumas pessoas têm da violência que atravessa a vida de pessoas LGBTQIA+.
Jessica Costa apontou que há uma confusão envolvendo as pessoas que cometem violências contra outras pessoas motivadas que tenham como plano de fundo a orientação sexual.
"Tem pessoas, por exemplo, que acham que quem comete homofobia é gay, ou violência contra lésbicas são feitas por lésbicas enrustidas. Isso não é uma realidade e esse discurso pode ser perigoso. Isso porque, no final, dizer que quem violenta faz isso porque também é [LGBTQIA+] significa que esse é um problema só da comunidade e não um problema coletivo que deve ser combatido por todas as pessoas", disse.
Diferentemente de muitas pessoas que se percebem bissexuais ainda na adolescência, a jornalista Priscila Mendes compartilhou que teve uma experiência "tardia" com sua sexualidade. Aos 29 anos, depois de ter se relacionado somente com homens, ela viveu sua primeira experiência afetiva por uma mulher.
"E não posso dizer que isso tenha acontecido antes, porque eu não tenho memória de ter identificado esse sentimento. Já adulta, sabendo como é a sexualidade LGBTQIA+, eu observei aquele sentimento por ela. Daí eu falei , espera aí, eu estou apaixonada por ela. Não é uma amizade que eu quero, é um vínculo de ver, de querer estar junto", disse.
Priscila conta que a descoberta da bissexualidade já na vida adulta fez com que algumas dificuldades vividas por pessoas LGBTQIA+ não a atingissem diretamente e citou como exemplo o fato de que muitas pessoas são expulsas de casa ao se assumirem.
Contudo, as "comodidades" da vida adulta não foram suficientes para fazer com que a jornalista deixasse de experimentar outros tipos de preconceito ocasionados pela sua orientação sexual. Um dos exemplos disso é o fato de Priscila ser casada com outra mulher e, por vezes, ser abordada por pessoas que não reconhecem sua bissexualidade.
"Hoje, as letrinhas são importantes para a gente se identificar, para a gente verificar as pautas de luta de cada um e para se proteger de algumas violências. Mas, acredito que num futuro em que a gente tenha debatido, em que as pessoas se relacionem afetivamente, sexualmente, talvez não precisaremos necessariamente dar um nome", finalizou.
Mês do Orgulho
Junho é mês do Orgulho LGBTQIA+ e a data se deve à manifestações que ocorreram em 8 de junho de 1969, nos Estados Unidos. Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York.
No decorrer do mês, são realizadas diversas ações que lembram a origem do movimento e chamam a atenção paras causas da diversidade. Neste sentido, o portal está publicando uma série de reportagens abordando diversas temáticas da comunidade LGBTQIA+.
Os demais materiais sobre o tema podem ser acessados a seguir:
Mulheres celebram o amor e relatam os desafios de viver suas liberdades
Em país homofóbico, estilista cuiabano detalha resistência de ser gay
Publicidade
Publicidade
Milho Disponível
R$ 66,90
0,75%
Algodão
R$ 164,95
1,41%
Boi à vista
R$ 285,25
0,14%
Soja Disponível
R$ 153,20
1,06%
Publicidade
Publicidade
O Grupo Gazeta reúne veículos de comunicação em Mato Grosso. Foi fundado em 1990 com o lançamento de A Gazeta, jornal de maior circulação e influência no Estado. Integram o Grupo as emissoras Gazeta FM, FM Alta Floresta, FM Barra do Garças, FM Poxoréu, Cultura FM, Vila Real FM, TV Vila Real 10.1, TV Pantanal 22.1, o Instituto de Pesquisa Gazeta Dados e o Portal Gazeta Digital.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem a devida citação da fonte.