SAÚDE MENTAL 13.04.2025 | 13h20
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“Quem se cuida, cuida melhor do outro.” A frase da psicóloga Maria Luísa Balestero carrega um lembrete importante para mães atípicas: em meio a diagnósticos e rotinas intensas de cuidados com os filhos, é comum que elas se esqueçam de si mesmas — o que pode gerar uma sobrecarga emocional profunda.
Em entrevista ao , Maria Luísa explicou que é natural, nos primeiros anos após o diagnóstico, que toda a atenção da família se volte para a criança. Afinal, são muitos os cuidados e adaptações. No entanto, ela reforça que também é essencial olhar com carinho para a mãe, que além dos desafios da maternidade, enfrenta novas camadas de complexidade emocional, física e social.
“As renúncias, as dores, o cansaço físico e emocional. Tudo isso sempre me tocou muito. Mas, principalmente, a culpa. A culpa por estarem cansadas, por desejarem um momento sozinhas, por pensarem em si mesmas, ainda que por um instante. O acúmulo de responsabilidades pode gerar exaustão, estresse crônico e frustração tanto com o rumo da própria vida quanto com o desenvolvimento dos filhos, que nem sempre acontece no tempo esperado”, disse a psicóloga.
A Pedagoga Rosane da Mata Nascimento é mãe de Guilherme, de 7 anos. Após o diagnóstico do filho, ela precisou buscar apoio psicológico para lidar com a nova rotina intensa, solitária e repleta de obstáculos. A terapia, segundo ela, foi essencial para encontrar forças e seguir em frente.
“Ser mãe de uma criança autista nos deixa emocionalmente fragilizadas. São muitas adversidades, o preconceito, a luta constante pelos direitos dos nossos filhos desde o laudo. A terapia me ajudou a me fortalecer. Cuidar da minha saúde mental me fez mais preparada para lidar com o comportamento do meu filho, com a sobrecarga da rotina e com a falta de apoio e o preconceito social. Hoje, me sinto mais forte”, relatou.
O sonho de Rosane é que mais mães tenham acesso ao cuidado psicológico. “A maternidade atípica exige muito. É dolorida, mas vale a pena. O autocuidado é o que nos permite continuar, que nos dá força para buscar o direito dos nossos filhos, o autismo é maternal, a dedicação é sofrida, mas vale a pena”, finalizou.
A dor do preconceito
Jornalista, Claryssa Amorim, mãe do pequeno Raul, 5, viveu, além do impacto do diagnóstico, a dor do preconceito. Ela lembra de episódios em que foi julgada por desconhecimento alheio sobre o autismo.
“Muita gente ainda acha que autismo virou ‘moda’. Mas não é isso. Hoje temos mais acesso à informação e profissionais mais capacitados para identificar os sinais. O que machuca é ouvir esse tipo de comentário, porque só quem vive essa realidade sabe o quanto foi difícil chegar até o diagnóstico”, desabafa.
“No shopping, Raul teve uma crise e uma mulher comentou: ‘Na minha época, minha mãe resolvia isso com um tapa’. As pessoas confundem crise com birra. E isso dói.” Apesar dos desafios, Claryssa enxerga na maternidade atípica um profundo aprendizado, ela também faz terapia para lidar com as adversidades e rotina intensa do filho.
“Cada dia é uma superação. Cada passo, uma vitória. Ser mãe de uma criança autista é desafiador, mas também é maravilhoso. O Raul é carinhoso, afetuoso e me ensina todos os dias o que é amor de verdade.”
Tratamento
Nesse contexto, a psicoterapia surge como um espaço essencial de acolhimento e cuidado. Cuidar da saúde mental dessas mães é fundamental para que elas consigam sustentar, com mais equilíbrio, o desafio da maternidade atípica. Na terapia, elas encontram um espaço seguro para serem ouvidas, para nomearem suas dores, suas dúvidas, seus medos, sem julgamentos. É também uma oportunidade de fortalecer a autoestima, aprender estratégias de regulação emocional, reorganizar prioridades e construir novas formas de lidar com as exigências do dia a dia.
"Mães que cuidam de si conseguem colaborar de maneira mais efetiva com os tratamentos dos filhos. Elas se tornam mais aptas a colocar em prática, em casa, as orientações dos profissionais que acompanham as crianças, o que potencializa os resultados das intervenções. Como costumo dizer: quem se cuida, cuida melhor. Por isso, oferecer apoio emocional para essas mulheres não é um cuidado apenas com elas, mas também com toda a família", finalizou a psicóloga Maria Luísa.
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