JULGAMENTO DE FEMINICIDA 10.08.2023 | 10h36
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Atualizada às 11h28 - Começou manhã desta quinta-feira (10) o julgamento de Antônio Aluízio da Conceição Maciano, preso em março deste ano acusado de matar sua ex-companheira Emilly Bispo da Cruz a facadas, na frente do filho de 4 anos, em Cuiabá. A tia da vítima ainda afirmou que ela pretendia ir embora para Curitiba, em abril deste ano. Ela diz se sentir culpada por não ter conseguido ajudar a sobrinha.
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O feminicídio, que aconteceu no dia 16 de março deste ano, em uma rua no Pedra 90, foi gravado por uma câmera de segurança próxima ao local. As investigações da Polícia Civil comprovaram que o crime já estava premeditado. O relacionamento dos dois, que durou cerca de um ano, foi marcado por situações conturbadas. Vítima era agredida e ameaçada com frequência. O último término ocorreu em fevereiro deste ano e Emily estava dormindo na casa de amigas por medo das ameaças e perseguições de Antônio, que não se conformava com o fim da relação.
A primeira testemunha ouvida foi Ryan Henrique Campos Rodrigues Flores, que viu o momento que Antônio fugia do local. Ele começou dizendo que escutou os gritos de Emily e já a encontrou sentada na calçada pedindo socorro. Ele também viu o suspeito montando na moto para sair do local, mas não chegou a impedir sua fuga.
“Sempre chego na marcenaria mais cedo para poder abrir. Onde aconteceu o fato, no fundo da marcenaria tinha uma criação de galinha, escutei uns dois ou três berros, achei que fosse algum bicho, mas quando saí na porta a menina estava sentada no meio fio e ele montando na moto pra fugir”, disse.
“O dono da marcenaria não deixou eu segurar ele [Antônio], por que podia me atacar com a faca. Ela começou a gritar chama o Samu, o filho dela não parava de chorar a todo momento [...] acho que escureceu as vistas dela e ela parou de gritar chama o Samu e começou a gritar ‘carro’, para levar ela pro pronto-socorro [...] apareceu um rapaz e colocou ela dentro do carro e seguiu para a UPA do pedra 90”, continuou.
A segunda testemunha ouvida foi uma das melhores amigas de Emily, Júlia Maria de Souza, que morava na quitinete ao lado da jovem. A testemunha relatou que “Emily era um pedaço de alegria” e era muito querida por todos que a conheciam. Disse que presenciou alguns casos de violência doméstica que a jovem sofreu.
“Houve bastante casos, um dos últimos que aconteceu foi quando ele foi na nossa residência, quando chegamos no serviço, ela entrou na casa dela, eu entrei na minha e ele entrou escondido, [...] entrou a casa dela e arrastou ela pra fora da casa dela, jogou ela no chão, partiu pra cima dela, foi quando ela conseguiu gritar, [...] saí do banho correndo, a gente avistou ele em cima dela com um canivete”.
Este fato ocorreu em dezembro de 2022, perto do aniversário de Emily. Quando Júlia disse que o aniversário era no dia 10 de dezembro o promotor Vinícius Gahyva se emocionou e disse “desculpa, é o dia do aniversário da minha filha”.
Júlia disse que Antônio mandava fotos de quando estava perseguindo Emily e afirmou que a jovem chegou a propor um relacionamento, mas ele não quis.
“Um dos incidentes que chocou também bastante a gente foi quando ela apareceu com olho roxo no serviço. O relato dela, por medo, foi que estava deitada e o celular caiu no olho dela [...] até então era só olho roxo, aí uns dois dias depois eu entrei na casa dela, conversei com ela, estava só de roupa íntima, foi quando vi as costas dela toda marcada, foi quando ela desabou, chorou bastante, foi ali que me contou das agressões que estava passando, que até então tinha medo de contar, me fez prometer não contar a ninguém, por medo. Me relatou das ameaças que estava sofrendo, sobre o filho dela, que ele falava que sabia onde o filho dela estudava, mandava foto do filho dela saindo da escola, entrando na escola”.
Também disse que Emily era sozinha, sua mãe morreu quando ela era jovem e o pai trabalha como caminhoneiro, passa muitos meses na estrada. Outros familiares da jovem moram longe, então ela se sentia sozinha e Antônio dizia isso para ela, que não tinha ninguém por ela.
Júlia também contou como Emily era como mãe.
“Era uma Emily diferente, quem é mãe sabe que quando a gente vira mãe, a gente vira uma pessoa diferente, então ela dava tudo que podia pra ele. A Emily mãe se doava por inteiro, sabia que não tinha recursos próximo da família da mãe dela. Uma coisa que ela sempre falava pra mim é que ela queria ser a mãe que ela não teve, porque sabia que a ausência que uma mãe tem pra um filho dói”.
Excepcionalmente no dia da morte de Emily, Júlia disse que não saiu com a colega para o trabalho. Foi a primeira ocasião em que Emily saiu sozinha.
Ainda afirmou que Antônio era muito persuasivo, dizia que as agressões não se repetiriam e que queria cuidar de Emily.
“Falava pra ela que ia mudar, que aconteceu só essa vez, que não era esse tipo de pessoa, que queria cuidar dela, fazer por ela o que as pessoas não faziam, porque a Emily era muito carinhosa, então ela queria alguém que protegesse ela, que desse carinho a ela [...] falava que ia dar amor pra ela, que ia mudar, que não era aquele tipo de pessoa”.
Sobre o filho de Emily, Júlia relatou que a criança ainda sente muita falta da mãe e não compreendeu, totalmente, o fato.
“Tem 4 anos, não tem uma plena consciência do que significa morte, do fato que aconteceu, porém ele sabe que a mãe dele não estava mais ali presente, o contato que a gente tem com ele, ele chama pela mãe, e a família que está com ele, a família do pai também relata que ele tem períodos e períodos, tem períodos que ele está tranquilo, mas tem período que ele acorda chorando perguntando pela mãe [...] como eles tinha guarda compartilha, ele arruma a mochila e diz q vai esperar pela mãe”.
A testemunha seguinte foi Alessandra Barroso da Cruz, tia de Emily, irmã da mãe dela. Alessandra disse que a mãe de Emily faleceu aos 27 anos, quando a garota tinha de 8 para 9 anos, e então ela passou a ser criada pela avó. A tia confirmou que Antônio não tinha interesse em manter relacionamento sério com Emily.
“Ele queria ela, mas não queria, não sei, queria controlar ela, os passos dela, mas não queria ter um relacionamento com ela, [...] eu sempre conversava com ela, eu via que ela gostava dele, mas não sabia das agressões, só desconfiava [...] eu lembro do fato que ocorreu dela aparecer com olho roxo, perguntei 'não foi esse guri não né', ela disse q não [...] mas o tempo foi correndo, ela falava que estava se encontrando com ele, depois ela chegou a admitir, após começarem as ameaças ao filho”.
A tia de Emily também disse que a jovem planejava se mudar para a casa da avó, em Curitiba, no mês de abril, quando conseguiria juntar dinheiro suficiente para isso. Afirmou ainda que Antônio chegou a confessar a ela que agrediu Emily.
“Eu conversei com ele no celular, ele estava tentando me convencer que bateu nela porque ela merecia, que ele estava certo, e toda vez que ela merecesse ele ia fazer isso”, disse.
Emily também teria dito à tia que Antônio era manipulador. “Falava ‘tia, numa conversa com ele você vai cair, porque ele vai conseguir convencer você”.
A tia também disse que Antônio fez tudo de caso pensado e que queria ter feito algo para ajudar a sobrinha, mas não sabia da real situação.
“Nem tudo ela contava pra gente, como isso aí [...] me sinto até culpada sabe, porque eu podia ter ajudado ela, eu podia ter feito qualquer coisa, pegado ela e mandado pra minha mãe, ela queria ir pra minha mãe, eu me recusei, falei 'você vai assim de uma hora pra outra?', se eu tivesse feito ela ir de uma hora pra outra [...] se eu pudesse voltar atrás pelo menos uns dias antes, mas a gente não pode, é uma coisa que acontece na vida da gente e não sabemos porque acontece”.
Segundo ela, as últimas palavras de Emily foram para a ex-sogra, dizendo “cuida do meu neném, cuida do meu neném, era só isso que ela pensava”.
O julgamento continua durante o dia de hoje.
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