12 DE NOVEMBRO DE 1864 15.11.2025 | 12h00

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(L'Illustration nº 1 119, 1866
Mato Grosso já teve um governador que nunca chegou, de fato, a governar o Estado e terminou morto como prisioneiro de guerra. Esta história começou há 161 anos, quando o engenheiro Frederico Carneiro de Campos acabou capturado pelo Exército Paraguaio, dando início ao que ficou conhecido como a Guerra do Paraguai.
O fato ocorreu exatamente no dia 12 de novembro de 1864, quando o navio a vapor ‘Marquês de Olinda’ foi cercado por tropas paraguaias a deixar o porto de Assunção, capital do país. “Em 12 de novembro de 1864, subia barco brasileiro, pacificamente, as mansas águas do rio Paraguai, rumo à província de Mato Grosso, levando seu futuro presidente – o coronel Frederico Carneiro de Campos, que substituiria o general Albino de Carvalho, quando recebe, inesperadamente, depois de passadas as águas de Assunção, já distante da capital, um tiro de canhão de navio paraguaio, avisando-o de que fizesse alto! O navio – o Marquês de Olinda, da companhia de navegação que servia à linha de Mato Grosso, foi apresado por ordem do presidente López. Foi o primeiro tiro da guerra!”, descreveu o historiador Acyr Vaz Guimarães no livro ‘Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica’.
Ele seguia para tomar posse de dois cargos, o de presidente e comandante de armas da Província do Mato Grosso, para os quais fora nomeado. A sua captura e prisão ocorreram em uma conjuntura de tensão entre o Brasil e o Uruguai, na época, o Império Brasileiro, sob comando de Dom Pedro II, apoiava o Partido Colorado no Uruguai.
Em meio à ‘guerra civil’, o Brasil entrou de uma vez no conflito e fez exigências ao governo uruguaio, tendo em vista que muitos brasileiros já viviam no Uruguai. Diante disso, os uruguaios conseguiram apoio do presidente do Paraguai, Francisco Solano López, sob alegação que o Brasil queria parte do território uruguaio para ceder à Argentina, e depois, juntos, invadir o Paraguai.
A prisão do então governador de Mato Grosso é considerado o estopim para o início da Guerra do Paraguai. Frederico Carneiro de Campos era natural de Salvador e contava com mais de 40 anos de serviço, tendo atuado em demarcações de limites e obras públicas, além de ter sido presidente da Província da Paraíba e deputado eleito várias vezes pelo Rio de Janeiro para a Assembleia do Império.
Após sua captura, Frederico Carneiro de Campos viveu como prisioneiro político os próximos 3 anos e morreu devido à fome e maus-tratos. Segundo os historiadores, ele faleceu na fortaleza paraguaia de Humaitá, em 3 de novembro de 1867, alguns meses antes desta ser conquistada por tropas brasileiras, em Passo Pocu, cidade vizinha.
O livro ‘Cronologia dos Principais Fatos da Guerra da Tríplice Aliança Contra o Governo do Paraguai’, baseado na obra ‘Efemérides dos principais fatos relacionados com a Campanha do Paraguai’ de Antônio Almeida da Rocha, detalha toda a trajetória do recém-nomeado governador de Mato Grosso.
Ele embarcou no dia 30 de outubro daquele ano do Rio de Janeiro, a fim de assumir em Cuiabá a Presidência da Província e o Comando das Armas do Mato Grosso.
Veja a cronologia:
09 Nov 1864 - O navio “Marquês de Olinda”, subindo o Rio Paraná, atinge Humaitá e, duas horas depois, Assunção.
11 Nov - O "Marquês de Olinda” deixa Assunção às 2 horas da tarde, rumo ao norte. Lopez, que estava em Cerro León, mandou o Ten. Cel. Antonio de La Cruz Estigarribia apreender o navio ainda no porto de Assunção, mas o oficial chegou atrasado 15 minutos.
12 Nov - Às 10 horas da manhã o navio de guerra paraguaio "Tacuary” ao comando do Tenente Remigio Cabral faz parar o “Marquês de Olinda” nas alturas de Curuzu Chico, sob ameaça de colocá-lo a pique. O governo paraguaio determina voltar a embarcação e a apreende em Assunção, prendendo o Governador e Comandante das Armas nomeado para a Província do Mato Grosso Cel. Frederico Carneiro de Campos e todos os passageiros e tripulantes. O paraguaio Coronel Vicente Barrios sobe a bordo do “Marquês de Olinda”, manda arriar a bandeira imperial, considera o navio boa presa de guerra e aprisiona todos os seus tripulantes e passageiros. O Cel Carneiro de Campos foi recolhido à Capela de São Joaquim, nos arrabaldes de Assunção, onde foi maltratado até morrer.
13 Nov - Às 9 horas da manhã o Ministro brasileiro Dr. César Sauvan Viana de Lima pede explicações ao governo paraguaio sobre o apresamento do "Marquês de Olinda” e recebe uma Nota antedatada de 12, pretendendo justificar o ato de violência praticado. À noite, atracava o navio brasileiro no porto de Assunção. - Sem as “formalidades tradicionais previstas nas convenções reconhecidas pelos países”, a República do Paraguai declara oficialmente guerra ao Império do Brasil às 1830 h. - Parte de Assunção uma expedição fluvial com 3.200 homens de Infantaria e uma coluna terrestre de 3.000 homens de Infantaria e de Cavalaria para a invasão paraguaia ao território brasileiro por Mato Grosso.
15 Nov - A alegação paraguaia era a de que o vapor transportava armamento para Mato Grosso, mas o inventário realizado por oficiais paraguaios revelou que somente foram encontradas “duas escopetas de caça, um revólver, uma pistola, quatro espadas, um punhal e um bastão com estoque, além de 1.500 cartuchos de bala e 100 espoletas” (Idem). Lopez manda o General Francisco Isidoro Resquin concentrar a cavalhada do seu exército na fronteira do rio Apa declarando que “estava na hora de agir” (Ibidem). - O governo paraguaio manda expedir os passaportes para os brasileiros da legação diplomática, funcionários e familiares do ministro residente, determinando que estes abandonassem o país pela via terrestre, uma viagem através de selvas inóspitas, sem estradas e pontes, até a barranca no caudaloso Rio Paraná, quase quatrocentos quilômetros adiante, onde, transposto este, na Província do Paraná, caso lá chegassem com vida, não encontrariam os viajantes um ambiente melhor. A intervenção de Charles Ames Washburn, o curioso enviado norte-americano, protestando e ameaçando o Paraguai com incômodos diplomáticos, levou Lopez e o ministro Berges a repensarem, autorizando finalmente a realização da viagem por água no dia 29 de novembro.
14 Dez - A 1ª coluna paraguaia, do Coronel Vicente Barrios, deixa Assunção, a bordo de uma esquadrilha de dez unidades, rumo ao Forte de Coimbra, Mato Grosso.
24 Dez - Desfilam pelas ruas de Assunção os batalhões 6°, 7°, 10º e 30º, destacados para a invasão da Província do Mato Grosso.
26 Dez - A coluna paraguaia do Coronel Francisco Isidoro Resquin deixa Concepcion, a fim de invadir o Mato Grosso. - A coluna paraguaia do Coronel Vicente Barrios avista o Forte de Coimbra, defendido pelo Tenente-Coronel Hermenegildo de Alburquerque Portocarrero.
27 Dez - O Coronel Vicente Barrios inicia o ataque ao Forte de Coimbra, e assim se inicia a Guerra do Paraguai.
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