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11.10.2025 | 14h25

O banquete da hipocrisia; quando a falsidade se torna cardápio

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Henrique Matthiesen

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À mesa da falsidade, não basta estar sentado: é preciso ter apetite para saborear a hipocrisia. Essa metáfora resume, com crueza, uma das faces mais duras da vida social e política contemporânea. Vivemos em tempos em que a aparência se sobrepõe à essência, e o jogo de máscaras parece ser a regra para garantir espaço, influência ou reconhecimento. A falsidade não se apresenta como acidente, mas como banquete, cuidadosamente preparado para atrair aqueles que, por conveniência, necessidade ou ambição, aceitam o convite.


O problema não é novo. A história humana está repleta de exemplos em que a dissimulação foi arma de sobrevivência ou de conquista de poder. Contudo, quando a falsidade deixa de ser exceção e se torna prática legitimada, o tecido social se corrói. É nesse ponto que a ética entra em cena, não como mera teoria abstrata, mas como bússola necessária diante da sedução do pragmatismo hipócrita. Afinal, que sociedade se constrói quando a verdade deixa de ser alimento e a hipocrisia se transforma no prato principal?


A falsidade exige cumplicidade. Quem finge precisa de quem aceite o fingimento como normalidade. Essa cumplicidade silenciosa faz com que ambientes de trabalho, instituições políticas e até mesmo relações pessoais se convertam em teatros permanentes, onde a franqueza é punida e o cinismo é premiado. À mesa da falsidade, o preço do ingresso é a abdicação da autenticidade. E isso nos coloca diante de uma questão crucial: qual o limite ético entre a diplomacia necessária à convivência e a hipocrisia que destrói qualquer possibilidade de confiança mútua?


É preciso reconhecer que a hipocrisia tem poder de sedução. Ela oferece atalhos: evita conflitos imediatos, mascara intenções e abre portas que talvez a verdade não conseguisse destrancar. No entanto, esse poder cobra um custo alto — o esvaziamento da integridade. A pessoa que se alimenta constantemente da falsidade acaba perdendo a capacidade de reconhecer-se como sujeito autêntico. O mesmo acontece com sociedades que toleram ou até celebram a hipocrisia institucional: sua base moral se deteriora, e o senso de justiça se converte em mera retórica.


A ética nos lembra que a vida não se resume a resultados ou aparências, mas também aos meios pelos quais se chega a eles. Uma vitória conquistada pelo engano é, em última instância, uma derrota da própria humanidade. Ao contrário do que parece, a hipocrisia não é inofensiva. Ela mina a confiança, que é o cimento das relações humanas, e transforma a convivência em constante vigilância, na qual todos suspeitam de todos.


Se a falsidade é mesa posta, a resistência ética é a recusa a sentar-se nela. É preferível suportar o desconforto da sinceridade do que banquetear-se na hipocrisia que, cedo ou tarde, cobra sua fatura. A coragem da verdade não é confortável, mas é libertadora. Num mundo cada vez mais habituado às máscaras, ser verdadeiro é um ato de rebeldia e também de dignidade.


No fundo, a reflexão que se impõe é simples, ainda que dolorosa: de que nos alimentamos diariamente? Das aparências, que enchem os olhos mas esvaziam a alma, ou da verdade, que muitas vezes amarga, mas fortalece? A resposta a essa pergunta define não apenas a integridade individual, mas também o destino coletivo de nossa sociedade.

 

Henrique Matthiesen é Formado em Direito e pós-graduado em Sociologia

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