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23.09.2025 | 13h41

O paradoxo do fim

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Werley Peres

Chico Ferreira

Chico Ferreira

Hoje vivemos uma verdadeira epidemia de transtornos mentais no pós-pandemia. Os números de pessoas com sintomas depressivos e ansiosos praticamente dobraram. Efetivamente isso aumentou de forma significativa o número de tentativas e também de mortes por suicídios em todo País.

 

Os fatores para esse aumento são inúmeros, dentre eles o isolamento social causado pela pandemia, a crise financeira que refletiu sobre a vida de milhares de famílias, a falta de acesso a um atendimento médico especializada e treinado, aumento de consumo de substâncias psicoativas, ou seja, drogas e álcool.  

 

Apesar de no Brasil existir a RAPS (rede de atenção psicossocial), infelizmente ela é insuficiente em razão da grande demanda da população com transtornos mentais. 

 

Apesar de termos uma boa cobertura de atenção básica, ela não é capaz de resolver a demanda, pois exige uma maior complexidade para não apenas fazer os diagnósticos, mas como também a necessidade de suporte terapêutico aos pacientes com transtornos.  

 

Os números em relação ao suicídio são expressivos e alguns gritantes. Por exemplo, apesar do gênero feminino tentar mais contra a própria vida, são os homens as principais vítimas, com quase 80% dos casos aqui no Brasil.

 

Precisamos analisar com maior profundidade esse dado. Alguns fatores, como a cultura machista e a pressão social sobre o gênero masculino de assumir um papel de forte e inabalável, acaba impedindo esses homens de procurar ajuda.

 

Além disso, eles consomem mais álcool e drogas que as mulheres e isso aumenta não só o risco de transtornos mentais quanto o risco do próprio suicídio. Assim, os fatores culturais e sociais refletem diretamente nesses números.  

 

Via de regra a pessoa que tenta contra a vida está dominada por três comportamentos psicopatológicos bem característicos, são eles: a ambivalência, a impulsividade e a rigidez de pensamento. 

 

No primeiro a pessoa vive um sentimento contraditório onde ao mesmo tempo, ela quer viver, mas   também quer se livrar da dor do sofrimento sentido naquele momento. Há uma dualidade, um conflito perturbador na mente do indivíduo.

 

Já o segundo, a impulsividade, pode durar alguns minutos ou hora, é nesse momento que a pessoa acaba tentando contra a vida, seja porque tem uma decepção, conflito familiar ou mesmo está sob efeito de drogas ou álcool.

 

O terceiro, a rigidez de pensamento, é caracterizado pela fixação em ter a morte como a única saída, assim a pessoa acaba não conseguindo ver solução dos problemas ou da atual situação vivenciada, exatamente pela dificuldade em racionalizar o momento no qual está passando, é como se ela estivesse em um beco onde a única saída seria o próprio fim. 

 

Podemos concluir a partir disso que quem quer ,ou tenta, se matar não quer morrer, ou seja, a pessoa está sob o domínio do paradoxo do fim.  Há um turbilhão de sentimentos negativos onde o medo, a angústia, a desesperança e o desespero tomam conta de tudo. Na verdade, a pessoa está limitada emocional e cognitivamente por todos esses sentimentos. 

 

Diante de tudo isso, as saídas para essas pessoas são as redes de apoio, seja ela feita por meio da família, amigos, profissionais de saúde ou mesmo por uma simples, mas importante ligação, o CVV. Quanto mais laços fortes uma pessoa tiver, menor a chance de dar cabo de si e assim conseguir passar pelos desafios que a vida impõe diariamente.

 

Logo, a fórmula mágica pra evitar a morte por suicídio está no olhar daqueles mais próximos, onde a sensibilidade e a empatia devem prevalecer sobre qualquer preconceito ou conceito. Não há como também ignorar a responsabilidade das autoridades municipais, estaduais e Federal para melhorar essa rede de apoio, em especial um robusto investimento na saúde mental do Brasil com ampliação e fortalecimento da RAPS.

 

O Estado tem suas digitais nesses números onde milhares de brasileiros perdem suas vidas anualmente, mudar essa realidade é um dever dele e um direito primordial do cidadão, o direito à vida.                                                    

 

Werley Peres é médico de família e pós-graduado em psiquiatria 

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