ENTREVISTA DA SEMANA 04.05.2025 | 07h49

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Reprodução
Por muitos anos, a castração de cães e gatos foi considerada um ato de responsabilidade e amor. No entanto, o procedimento também pode desencadear alterações hormonais, doenças graves e comprometer o sistema imunológico dos animais. Hoje, é fundamental realizar uma avaliação criteriosa para que o pet não seja exposto a riscos desnecessários e a castração indicada apenas quando realmente necessária.
Em entrevista ao
, a médica veterinária Kamila Lara esclareceu mitos e verdades em torno do tema, destacando tanto os benefícios quanto os riscos da castração. Segundo ela, o procedimento deve ser realizado principalmente para o controle populacional, visando reduzir o número de animais nas ruas e em abrigos ou quando há riscos concretos à saúde do pet, como infecções uterinas ou neoplasias testiculares.
Gazeta Digital - Quais são os principais benefícios da castração para a saúde dos animais?
Doutora Kamila - Castração sempre foi falada como um ato de amor, de promoção de saúde, mas, conforme o tempo foi passando, chegamos a conclusão que não. O benefício da castração é para controle populacional, diminuir a quantidade de animais nas ruas e em abrigos. Também teremos doenças que envolvem o sistema reprodutor, como infecção uterina ou neoplasia testicular.
Gazeta Digital - Existem riscos envolvidos na castração? Quais cuidados devem ser tomados?
Doutora Kamila - Hormônios sexuais são extremamente importantes para fisiologia do corpo do animal, já que também estão ligados a outros hormônios e neurotransmissores, como cortisol, serotonina, dopamina. A decisão sobre procedimento deve ser avaliada de forma individual. Há estudos que relataram maiores riscos de desenvolver distúrbios urinários, metabólicos e musculoesqueléticos em animais castrados.
Gazeta Digital - Essas alterações hormonais são prejudiciais ao animal?
Doutora Kamila - Os hormônios sexuais têm papel fundamental para o corpo, quando para a produção temos um desequilíbrio. Exemplo disso, a agressão pode estar relacionada ao medo, que é modulada por hormônios do estresse, como o cortisol, com a testosterona atuando como um antagonista. O cortisol, um hormônio do estresse, é liberado em situações de perigo e pode aumentar o medo e a ansiedade. A testosterona, por outro lado, pode ter um efeito antagonista, reduzindo a reatividade ao estresse em alguns casos. Consequentemente, na ausência de testosterona após a castração, pode-se esperar um aumento do medo e da insegurança.
Gazeta Digital - Há risco de o animal desenvolver doenças após ser castrado?
Doutora Kamila - Sim, fêmeas castradas têm o risco 11 vezes maior de desenvolver tumores cerebrais e disfunção cognitiva (estrogênio pode ser um protetor contra o envelhecimento cerebral e o crescimento de tumores cerebrais). Aumenta risco de distúrbios articulares, como displasia do quadril, ruptura do ligamento cruzado e displasia do cotovelo (o papel dos hormônios gonadais no controle do fechamento das placas de crescimento ósseo). Aumenta chance de linfoma, mastocitoma, hemangiossarcoma, carcinoma de células transacionais de bexiga e osteossarcoma, incontinência urinária, obesidade, diabete e hiperadrenocorticismo.
Gazeta Digital - Castrar muito cedo pode trazer consequências negativas para o desenvolvimento do animal?
Doutora Kamila - Quanto mais cedo as consequências são piores, pois o corpo teve pouco contato com os hormônios sexuais. Entretanto, não existe uma idade ideal absoluta para castrar todos os cães e gatos. A idade ideal pode depender de vários fatores, incluindo espécie, raça, tamanho corporal.
Gazeta Digital - A castração pode afetar negativamente o sistema imunológico?
Doutora Kamila - Como o procedimento altera fisiologia normal do corpo, dessa forma sim. Já que a testosterona, estrogênio e progesterona, por exemplo, podem influenciar a maturação, ativação e resposta de células imunes, assim como a produção de anticorpos e citocinas.
Gazeta Digital - Existe risco de depressão, ansiedade ou letargia após a castração?
Doutora Kamila - Animal pode apresentar a ansiedade, pois pode ficar mais medroso já que não tem a testosterona, dessa forma aumenta o cortisol. Letargia pode ser causada pela obesidade ou alteração do metabolismo. Já sobre a depressão, não há comprovação.
Gazeta Digital - Como o tutor pode perceber se o animal não está se adaptando bem ao pós-castração?
Doutora Kamila - Hormônios demoram alguns meses para parar de circular no corpo, dificilmente o tutor irá perceber algo. Mas existe a possibilidade de dosar hormônios e, se for necessário, repor.
Gazeta Digital - Há alguma raça ou condição de saúde específica que torne a castração mais arriscada?
Doutora Kamila - Em animais de grande porte, as alterações metabólicas e hormonais causadas pela castração tendem a ser mais significativas. Além disso, quando o paciente apresenta doenças pré-existentes, como problemas cardíacos ou renais, o risco anestésico aumenta. Dessa forma, a cirurgia deve ser conduzida por uma equipe experiente, com anestesista e cirurgião de excelência.
Gazeta Digital - A castração pode interferir na socialização ou comportamento natural do animal?
Doutora Kamila - Pode, porém, não podemos atribuir APENAS a castração, já que elementos intrínsecos como sexo, raça, idade e influências externas, como o estilo de vida do cão-dono, personalidade do dono; todas as variáveis auxiliam no desenvolvimento do comportamento do animal.
Gazeta Digital - Em que casos você não recomenda a castração?
Doutora Kamila - Não recomendo nos casos em que os tutores têm apenas um sexo (todos são fêmeas ou machos) ou quando tem só 1 animal.
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