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O MAIS ANTIGO E FAMOSO 11.10.2025 | 16h15

Com 2 séculos, cemitério abriga protagonistas da história de MT

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Mel Rodrigues

Mel Rodrigues

Em meio a paisagem urbana, entre residências, comércios e até escola, surgem cruzes, imagens de santos, lápides e pássaros sobrevoam o local. Mais famoso e antigo da Capital, o Cemitério da Piedade se destaca no Centro de Cuiabá, lembrando a quem passa pelas suas imediações da finitude da vida. Se para alguns a fama de “mal-assombrado” se destaca por meio de relatos e lendas urbanas, para outros o espaço se mostra um verdadeiro museu a céu aberto, com protagonistas da formação histórica e cultural da Capital.

 

“Ele é considerado assombrado por ser cemitério, onde associam com as almas penadas, assombrações, pessoas que morreram apareceram as outras pessoas. Essas lendas aguçam a curiosidade das pessoas em querer saber sobre essas histórias. Com toda a modernidade que chega em nossa cidade, remontar e recontar tudo isso é uma forma de preservar todas as nossas características”, analisa o professor e historiador Edmilson Marques de Moraes em entrevista ao .

 

Fundado no século XIX, entre os anos de 1817 e 1819, o Cemitério da Piedade apresenta indícios de que os sepultamentos já aconteciam desde 1812. Este foi o primeiro cemitério público de Mato Grosso, onde monarquistas, republicanos, políticos, imigrantes e, até mesmo, escravos foram enterrados, sendo considerado o mais tradicional de Cuiabá.

 

“Nesse período estavam acontecendo no Brasil as Revoluções de cunho separatista com o propósito de proclamar a República para se livrar das amarras da metrópole portuguesa, como a Revolução Pernambucana em 1817. Em Cuiabá foi inaugurado em 1817 a Santa Casa de Misericórdia e, em 1818, o Arraial do Senhor Bom Jesus de Cuiabá foi elevado à categoria de cidade”, contextualiza Moraes.

 

Na época de sua fundação, era exigido que as cidades adotassem hábitos de higienização e a estruturação do espaço urbano, sendo recomendado que os cemitérios fossem cercados e tivessem uma capela. Normalmente, estes locais destinados ao “fim da vida” ficavam em áreas mais distantes dos povoados. Contudo, hoje o cemitério foi "abraçado" pela cidade devido ao crescimento demográfico e populacional.

 

Embora hoje seja conhecido como um cemitério de figuras ilustres da sociedade, inicialmente o espaço abrigava falecidos de diversas classes, chegando inclusive a ter enterros em períodos distintos do dia. Na época do surto de varíola, os enterros eram realizados, em sua maioria, à noite para evitar a curiosidade do povo.

 

Com o passar dos anos, foram construídos outros cemitérios na cidade, como o Cai-Cai na avenida São Sebastião, que hoje é uma praça, e a igreja Nossa Senhora do Carmo e o Cemitério do Porto, afastados da área central.

 

“Devido a essas características na formação da cuiabania, enterrar neste cemitério se tornou até questão de destaque para a sociedade, permanecendo até hoje. Personalidades como o ex-governador Dante de Oliveira, Augusto de Leverger (Barão de Melgaço), Estevão de Mendonça, Rubens de Mendonça, Júlio Strubing Muller, Antônio Peixoto de Azevedo, Falcãozinho, João Caveira, Maria de Arruda Muller, padres de renome na cidade, Jejé de Oya, Liu Arruda, Família Orlando, Família Escobar Bueno, Família Costa e Arruda, ex-governador Garcia Neto, Baronesa e Barão de Diamantino, o ex-presidente da Câmara Municipal Júlio Pinheiro, Frei Quirino, e muitas outras personalidades e famílias tradicionais estão lá”, narra o historiador.

 

Por abrigar tais “moradores” e suas características arquitetônicas, bem como a importância sociocultural, o Cemitério da Piedade foi tombado em 1998 como Patrimônio Histórico do Estado de Mato Grosso. Foi feita a representação através da fachada principal, com duas colunas de cada lado do portão, num estilo neoclássico.

 

“Hoje o local é considerado um museu a céu aberto por preservar parte da memória da nossa Capital. É considerado, também, como um Centro Cultural, principalmente no Dia de Finados, onde as famílias se encontram na visita aos túmulos. O Cemitério da Piedade colabora para contar e preservar a memória e identidade do povo cuiabano. Uma aula prática onde podem ser explorados vários temas relacionados à nossa cidade ao longo dos mais de 200 anos de fundação”, finaliza o historiador.

Conheça algumas figuras de renome que descansam no local

 

Dante de Oliveira (1952 - 2006)

Sepultado no mesmo jazigo onde está sua irmã, Lúcia Oliveira Taveira, e outros membros da família, repousam os restos mortais do ex-governador e constituinte Dante Martins de Oliveira. Em vida, se destacou como símbolo da redemocratização do Brasil, responsável pela emenda constitucional que restabelecia as eleições diretas para presidente da república, no movimento que resultou na campanha das 'Diretas Já'.

 

Ex-prefeito de Cuiabá e ex-governador de Mato Grosso, Dante era cuiabano e engenheiro civil. Nascido em 1952, ele também foi deputado federal, deputado estadual e ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário. Prefeito de Cuiabá 3 vezes, deputado federal por Mato Grosso, deputado estadual e ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário. Faleceu em 2006, aos 54 anos, vítima de uma pneumonia agravada pelo diabetes.

 

Augusto de Leverger (Barão de Melgaço) (1802 - 1880)

Seu túmulo fica situado no jazigo da família do Desembargador José de Mesquita e de Estevão de Mendonça. Nasceu em 1802 e foi um militar e geógrafo franco-brasileiro, estando entre seus principais interesses a hidrografia. Nomeado para o Arsenal de Marinha de Mato Grosso, chegou a Cuiabá em novembro de 1830, onde permaneceu pelo resto da vida. Em Cuiabá, casou-se com Inês de Almeida Leite em 1843. Francês, foi naturalizado brasileiro em 1842.

 

Durante a Guerra do Paraguai, lutou no Forte de Coimbra, onde foram erguidas fortificações de Melgaço para proteger Cuiabá do avanço das tropas invasoras. Por impedir que os opositores a atingissem a capital mato- grossense e seu envolvimento na defesa das fronteiras brasileiras, recebeu o título de Barão de Melgaço.

 

Após o falecimento em 1880, sua casa foi desapropriada em 1926 pelo Estado e em 1931 vira sede do Instituto Histórico e Geográfico e a Academia Mato-grossense de Letras.

 

Estevão de Mendonça (1869 - 1949)

Vizinho de sepultura de Barão de Melgaço, Estevão de Mendonça nasceu em Santo Antônio da Barra, distrito de Barão de Melgaço-MT, no dia 25 de dezembro de 1869. Historiador, integrou o quadro dos sócios fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, em 1919, assim como, na mesma categoria, o do Centro Mato-Grossense de Letras, ancestral da Academia Mato-Grossense de Letras, no ano de 1921.

 

Mesmo não tendo o título de bacharel em Direito, mas detentor de sólidos e abalizados conhecimentos, atuou como advogado provisionado, pertencendo aos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Mato Grosso (OAB-MT). Colaborou nos periódicos nacionais e regionais como Almanaque de Mato Grosso, Almanaque do Rio Grande do Sul, Almanaque Garnier, além de significativa participação no clássico Álbum Graphico de Mato Grosso. Faleceu na capital, no mesmo mês em que nasceu, aos 2 de dezembro de 1949.

 

Rubens de Mendonça (1915 - 1983)

Nascido em Cuiabá em 27 de junho 1915, filho de Estevão de Mendonça e de Etelvina Caldas de Mendonça, é considerado um dos maiores expoentes da historiografia mato-grossense. Foi ainda topógrafo, professor e escritor. Multifacetado, contribuiu também com o jornalismo de Cuiabá e Mato Grosso, fundando o jornal Pindorama e Sarã, atuando em periódicos como o Correio da Semana, A Batalha, O Social Democrata, O Estado de Mato Grosso, Correio da Imprensa e o Diário de Cuiabá.

 

Ao longo de sua vida publicou mais de 30 livros e centenas de artigos, os quais escreveu sobre as mais diversas temáticas envolvendo a história do estado. Foi cotado como deputado, interventor e presidente de Mato Grosso, mas recusou. Hoje a famosa “Avenida do CPA”, na verdade, leva seu nome “Avenida Historiador Rubens de Mendonça”. Faleceu em 3 de abril de 1983.

 

José Garcia Neto (1922 - 2009)

Filho de Antônio Garcia Sobrinho e Antônia Menezes Garcia, José Garcia Neto nasceu em 1º de junho de 1922. Foi engenheiro civil, professor e ex-governador de Mato Grosso. Filiado à ARENA foi eleito deputado federal em 1966 e 1970. Indicado governador de Mato Grosso em 1974 pelo presidente Ernesto Geisel, em sua estadia no Palácio Paiaguás foi sancionada a lei criando o estado de Mato Grosso do Sul.

 

Nomeado diretor das Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte) em 1983, permaneceu na companhia por 5 anos até deixar o cargo e também o PMDB retornando à iniciativa privada. Faleceu em novembro de 2009 vítima de um acidente vascular cerebral. O deputado federal e Secretário Chefe da Casa Civil, Fábio Garcia (União) é seu neto.

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