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TEMEM novos DESMORONAMENTOS 28.04.2025 | 18h05

Vizinhos reclamam de abandono e burocracia para reformas de casarões

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Mariana da Silva

Mariana da Silva

Não é de hoje que a história vem se desfazendo em meio as chuvas e lama das pedras usadas em construções que abrigaram gerações de ilustres famílias cuiabanas. Cenário de decadência e abandono, o Centro Histórico de Cuiabá teve mais uma "vítima" em meio ao temporal de domingo (27): o antigo prédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

 

Por volta das 21h30 já circulavam em grupos e redes sociais imagens da edificação com um buraco em sua fachada e pedaços de material esparramados pela calçada e rua. O aposentado Lúcio de Barros Brito, 72, mora há anos em frente ao prédio do Iphan e há poucos dias “previu” que o local viria a ceder, fato comentado com vizinhos. Na noite de domingo (27), a profecia se concretizou. 

 

“Eu senti que iria cair, eram 5h da manhã de hoje eu abri a janela e vi que estava caído [escombros]. Estava chuviscando ainda, mas de madrugada não ouvi barulho, acordei e já estava jogado aí. De dia vieram recolher os pedaços”, disse ao

Reprodução

centro histórico iphan

 

Por ironia do destino, estava programada para hoje o lançamento da restauração do espaço, inclusive com presença do presidente nacional do Iphan, Leandro Grass, que veio a Cuiabá. Mesmo com o acontecido, nesta manhã se deu a autorização para retomada das obras e a autarquia retorne ao local. Segundo vizinhos, já cedo funcionários começaram a trabalhar no espaço, mas no período da tarde a equipe do não encontrou ninguém e o local estava fechado.

O memorialista e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Francisco Chagas Rocha, acompanhou a reportagem e narrou que o material que cedeu do espaço foi recolhido por pesquisadores e estudantes do projeto Canteiro Modelo de Conservação de Cuiabá, parceria entre o Iphan e a UFMT. 

 

Datado do século XVIII, o patrimônio localizado na Rua 7 de setembro foi tombado em 1988. Francisco narra que em 2018 o local foi ocupado pela última vez como sede da própria autarquia e posteriormente as atividades foram transferidas para outro espaço para que a construção passasse por reforma. Por falta de recursos, ficou certo tempo abandonado e após retomada das obras em 2024 foi invadido por criminosos que, além de furtar fiação, colocaram fogo no local, incendiando o telhado e comprometendo a estrutura.

 

Desgaste e degradação afeta locais próximos

Há poucos metros dali, na rua Engenheiro Ricardo Franco, o morador Paulo César Jesus Mariano de Souza, 45, encontrou a equipe de reportagem do em frente a sua residência, que também sofreu com as chuvas. O casarão, ao contrário de muitos na redondeza, ainda é habitado por ele e sua mãe.

 

A matriarca, na verdade, está com parentes e ele tem permanecido na residência zelando pelo espaço e aguardando movimentação de restauro. Isso porque no dia 8 de abril, aniversário de Cuiabá, parte de sua casa veio abaixo com as fortes chuvas. Paulo relata que, mesmo cuidando do local e fazendo reformas de manutenção esporádicas, ainda assim parte da estrutura não suportou e cedeu. Revoltado, ele desabafa que nem mesmo os entulhos do desabamento puderam ser retirados do local, de acordo com ele, por impedimento do Iphan.

Mariana da Silva

centro histórico

 

“Sou nascido e criado aqui. Minha filha é a quinta geração, minha mãe também nasceu aqui. Vida toda aqui, não sei o que é mudar. O problema é esse muro que caiu, se demorar a reparar compromete a estrutura. Única coisa que fizeram foi uma vedação com lona que não deixa infiltrar, mas se vier outra chuva… Todo esse tempo aqui nunca aconteceu isso. Temos um presépio de sala aqui que tem 200 anos. Sempre cuidamos bem, mas o Iphan só aparece quando cai, nunca vem pra manutenção. Defesa Civil esquece, caiu eles vieram. Agora aguardamos até autorização para tirar o entulho. Ganhei o material para reconstruir, mas não podemos”, desabafou.

 

Paulo cita que a autarquia recomenda que a reconstrução seja feita aos moldes da estrutura original e de adobe, algo estimado em R$ 100 mil e que demoraria muito tempo. “Muitíssima burocracia, é mais fácil o morador vender. Isso é o que faz com que ninguém fique aqui, isso contribui para esvaziar o Centro Histórico, a pessoa quer arrumar, mas não pode”, complementa.

Mariana da Silva

centro histórico

 

Paulo e vizinhos também relembram um antigo morador da casa ao lado da sua, conhecido como João Cabral, que por volta de seus 40 anos faleceu sem terminar a reforma pela qual lutou para iniciar. Hoje o espaço está abandonado. Na frente, uma placa do governo do Estado cita “obra de conservação de edificação de interesse histórico-cultural situada na Rua Engenheiro Ricardo Franco”. A obra, que deveria custar R$ 200 mil com recursos da Secel-MT e ficar pronta em 120 dias, não tem prazo para ser retomada.

Mariana da Silva

centro histórico

 

Outra residência, a qual os vizinhos temem estar “condenada” é da antiga moradora Nally Hugueney Siqueira. Imbróglio de herdeiros, entre mortos e vivos, o local "faz parede" com outras residências nas proximidades do Museu de Imagem e Som de Cuiabá (MISC). O local já foi casa de Generoso Ponce.

Mariana da Silva

centro histórico

 

Abandonada e repleta de entulhos, conhecidos relatam que pela dificuldade em avançar com obras de restauro, os herdeiros desistiram do local, que hoje está tomado de objetos de construção e até lixo. Nas paredes, mensagens carinhosas relembra a história que o local um dia teve e a saudade de uma avó.

Mariana da Silva

centro histórico

 

O que dizem as autoridades

A assessoria do projeto Canteiro Modelo de Conservação de Cuiabá, projeto de extensão viabilizado pela UFMT e pelo IPHAN, informou que na manhã desta segunda-feira (28) foi lançada oficialmente a obra na Casa Sete de Setembro. Na rede social do projeto, é informado que o imóvel, que foi sede do Iphan-MT por mais de 30 anos, agora retorna às suas origens e se transforma também em um espaço dedicado ao fomento da educação patrimonial e da conservação do patrimônio em Cuiabá. 

 

"Com recursos de R$ 2,5 milhões do Novo PAC, a intervenção será realizada por meio do Programa Conviver, através do CMCC-UFMT-Iphan — iniciativa que já atua no Centro Histórico com assistência técnica e obras de conservação de imóveis destinados à moradia (ATHIS)", cita.

 

Participaram o presidente do Iphan, Leandro Grass, da superintendente do Iphan-MT, Ana Joaquina da Cruz, de representantes do Canteiro Modelo de Conservação de Cuiabá (CMCC-UFMT-Iphan), de secretários municipais e de outras autoridades.

A reportagem do entrou em contato com a Defesa Civil de Cuiabá e com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para verificar se as situações têm sido monitoradas e quais ações feitas para reparo e apoio a moradores e vizinhos dos locais afetados.

Por meio de nota o Iphan declarou que vem acompanhando a situação e tem estabelecido diálogo com a Defesa Civil e a prefeitura municipal, especialmente com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano Sustentável de Cuiabá, para ações emergenciais nos imóveis que sofreram algum tipo de dano.

 

"O Iphan atua no momento com dois programas no Centro Histórico: o Canteiro Modelo de Conservação, com investimento de 5,5 milhões, que é voltado para moradores em situação de vulnerabilidade social e econômica e que tem dado apoio técnico nas situações emergenciais; e o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), que prevê o investimento de 6,5 milhões na recuperação dos imóveis casa 7 de setembro (antiga sede do Iphan) e do casarão de Bem Bem e NhoNhô de Manduca, que abriga o Instituto Ciranda. 

 

O anúncio das obras na antiga sede do Iphan foi feitas ontem, dia 28/04, pelo presidente do Iphan. O investimento de 2,5 milhões de reais para recuperação do imóvel advém do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, e será administrado pela equipe do Canteiro Modelo de Conservação de Cuiabá, haja vista o termo de execução descentralizada já existente entre o Iphan e UFMT.


Quanto ao mapeamento das áreas em risco está sendo estabelecido um cronograma junto a Defesa Civil, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano Sustentável de Cuiabá e se pretende envolver outros órgãos como CREA e CAU para execução de vistorias conjuntas visando o mapeamento de risco dos imóveis que compõem o centro histórico de Cuiabá."


Já a Defesa Civil não obteve retorno. Espaço segue aberto 

 

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