Acusado de matar homem com 10 tiros na cabeça vai a júri 9 anos depois

A 11ª Vara Criminal de Cuiabá Especializada da Justiça Militar determinou a intimação de Jean Richard Garcia Lemes sobre a realização da sessão de seu julgamento no dia 14 de outubro deste ano, às 13h. Ele é réu pela execução de Cleowerton Oliveira Barbosa, morto com 10 tiros por fumar maconha nas proximidades da casa da mãe do investigado.

Consta nos autos que Jean Richard foi pronunciado em 13 de agosto de 2024, mas desde então a defesa interpôs diversos recursos, sendo que somente agora, um ano depois, o réu deve ir a julgamento. Além do homicídio, pesam contra ele as qualificadoras de motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima.

O crime ocorreu há 9 anos, no dia 10 de setembro de 2016, por volta das 9h30, em uma rua do bairro Novo Milênio, ao lado de uma distribuidora, na Capital. Na época, Jean se aproximou de Cleowerton por trás e descarregou a arma contra ele. A vítima foi atingida por 10 tiros, alguns na cabeça.

Jean alegou que a vítima usava drogas em uma casa abandonada localizada aos fundos de onde residia sua mãe e que já havia pedido anteriormente para que parasse. Moradores e comerciantes da região apontaram o réu como o autor do crime, inclusive, indicando uma suposta ameaça feita pelo réu contra a vítima na semana da execução.

Mãe ameaçada 

O caso ganhou notoriedade quando a cabeleireira Sylvia Mirian Tolentino de Oliveira, mãe da vítima, recebeu voz de prisão do juiz Wladymir Perri, durante uma audiência de instrução em setembro de 2023. Sylvia prestava depoimento sobre a morte do seu filho, quando, questionada sobre a presença do acusado do crime no mesmo ambiente, disse que não se importava porque, para ela, o acusado “não era ninguém”.

O juiz Wladymir Perri pediu respeito ao suspeito e que mantivesse serenidade e inteligência sobre a circunstância”, momento em que Sylvia rebateu o magistrado e disse que “não estava nem aí” e que queria depor. O juiz então se exaltou e alegou que não aceitaria ser desafiado.

Quando a audiência foi encerrada, a mãe se levantou e jogou um copo de plástico que ela segurava. Em seguida, segundo a promotora, ela se voltou ao réu e disse: "da justiça dos homens você escapou, mas da justiça de Deus não escapa". Nesse momento, ela recebeu voz de prisão.

Vídeo da audiência circulou nas redes sociais e causou repercussão nacional. A Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) chegou a instaurar uma reclamação disciplinar contra o juiz Wladymir Perri por suposta conduta temerária e recorrente na condução de processos sob sua responsabilidade. 

Em abril deste ano, o CNJ determinou o arquivamento da reclamação disciplinar. O corregedor-geral, ministro Mauro Campbell Marques justificou a decisão afirmando que Órgão Especial do Tribunal de Justiça de Mato Grosso decidiu, por maioria, aplicar uma pena de censura ao magistrado no âmbito de uma sindicância administrativa referente ao caso.