A votação da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026 em Cuiabá ficou para a noite desta sexta-feira (19), após um forte embate político e clima de tensão marcar a sessão extraordinária realizada pela manhã. O impasse começou diante da denúncia de um suposto acordo do prefeito Abilio Brunini (PL) para rejeitar todas as emendas parlamentares ao orçamento, o que provocou bate-boca, gritaria e a suspensão temporária dos trabalhos no plenário da Câmara.
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A sessão, considerada uma das mais tumultuadas do ano, precisou ser interrompida momentaneamente após discussões acaloradas entre vereadores. A presidente da Casa, Paula Calil (PL), elevou o tom em diversas ocasiões e chegou a clamar por respeito entre os parlamentares para tentar conter a desordem. Mesmo com a retomada da transmissão, os ânimos permaneceram exaltados.
A Câmara deixou para a última sessão legislativa do ano a apreciação da LOA, que estima receitas e despesas em R$ 5,4 bilhões, além de outras matérias do Executivo. Ao todo, foram agendadas pelo menos quatro sessões extraordinárias, sendo a primeira destinada à votação do orçamento e das emendas positivas e modificativas.
O estopim da confusão foi a fala da vereadora Baixinha Giraldelli (Cidadania), que revelou uma suposta conversa com o prefeito Abilio Brunini. Segundo ela, teria ficado decidido que nenhuma das 18 emendas apresentadas pelos parlamentares seria aprovada. “No sábado eu conversei com o prefeito e pedi para remanejar R$ 2 milhões para a Educação e R$ 1 milhão para o social. Na quarta, houve uma reunião e fiquei sabendo que ficou decidido que não seria mandada emenda de ninguém. Ficou claro que não iria passar emenda de ninguém”, afirmou.
A declaração gerou reação imediata do vereador Daniel Monteiro (Republicanos), que demonstrou irritação com a possibilidade de interferência do Executivo. “Nós ouvimos que ele tem a maioria dos vereadores aqui. Agora, se essa Casa é de fato independente, como acho que é, eu quero ver se nenhuma das emendas vai passar. Se chegar ao ponto que o prefeito escolher o que vai ou não passar, vai chegar o ponto dele escolher o que a gente vai comer no café da manhã”, disparou. Em outro momento, ele chegou a dizer que, se fosse assim, “não haveria necessidade de eleger legisladores em 2028”.
Após a fala de Baixinha, o clima esquentou ainda mais, com vereadores se aglomerando em frente à Mesa Diretora. A vereadora Maysa Leão (Republicanos) pediu a palavra e tentou conter o avanço da crise. “Não podemos prejudicar outros projetos, se o projeto de um ou outro colega foi reprovado”, afirmou.
Na sequência, o vereador Kássio Coelho (Podemos) contestou a versão apresentada e negou qualquer direcionamento por parte do prefeito. “Eu estava na reunião e não teve nenhum direcionamento de voto”, declarou.
O vereador Wilson Kero Kero (PMB) também se posicionou, afirmando que não participou de nenhuma reunião com o gestor municipal e ressaltou a independência do seu mandato. Ele ainda criticou a postura da presidência durante o tumulto. “Não tem nenhuma criança aqui, temos que ser respeitados também”, disparou, ao se referir aos “puxões de orelha” dados por Paula Calil.
Durante o debate, vereadores também divergiram sobre o mérito do orçamento. Maysa Leão criticou a falta de recursos em áreas sensíveis. “Não existe um trabalho de uma prefeitura sem orçamento. Olhei as mudanças feitas, principalmente em áreas de grande vulnerabilidade, como a Secretaria da Mulher. Ainda não é suficiente. Não adianta ter um piloto de supersônico e não ter gasolina”, comparou.
Já o vereador Didimo Vovô (PSB) anunciou voto contrário à proposta. “Encaminhei algumas modificações, mas vou votar contra o orçamento porque nossa cidade está totalmente abandonada e ano que vem vai ficar ainda pior”, afirmou.
Em defesa do projeto, o vereador Dilemário Alencar (União) disse que a peça orçamentária é realista. “A LOA 2026 é uma LOA realista, não é feita por marqueteiro para enganar a população. Esses R$ 5,4 bilhões são baseados no que foi realizado nos últimos três anos”, argumentou.
O tumulto também marcou a fala da primeira-dama e vereadora Samantha Iris (PL), que teve o discurso interrompido por conversas paralelas e gritaria no plenário. A presidente Paula Calil precisou intervir novamente e cobrar respeito enquanto a colega de partido utilizava a tribuna. Irritada, Samantha reagiu: “É engraçado que vereador que reclama que a LOA não foi discutida, mas a gente quase não vê na sessão. Chega na minha vez é esse chilique, toda vez”.
Diante do cenário de conflito e das denúncias envolvendo a rejeição das emendas, a votação do orçamento acabou sendo adiada para o período da noite, quando a expectativa é de que a LOA de 2026 volte à pauta em meio a um plenário ainda sob forte tensão política.