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um ano da lei da pesca 15.02.2025 | 15h31

Pescador relata dificuldade financeira e incerteza do futuro

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Marcello casal JR / Agência Brasil

Marcello casal JR / Agência Brasil

Descendente do povo indígena Guató e pescador de terceira geração, a atividade ribeirinha sempre foi mais do que um meio de sustento para Lourenço Pereira, 56. Ele cresceu dentro de uma canoa, como descreve. Contudo, a vida que sempre conheceu foi drasticamente transformada pela Lei do Transporte Zero.


Aprovada em junho de 2023, a legislação que proíbe o transporte e armazenamento de 12 espécies de peixes por 5 anos em Mato Grosso já vigora há mais 12 meses. Antes da regra, Lourenço mantinha as despesas da casa, garantindo o sustento da esposa e 3 filhos.


Agora, seus filhos mais velhos e a companheira, que possuem outras ocupações, precisam auxiliá-lo financeiramente. "Hoje, é a minha família que tem que ajudar a colocar comida na mesa. Antes eu dava conta de tirar com o sustento do rio, hoje são eles que colocam a comida na mesa com segurança (sic)", lamentou.

 

Otmar de Oliveira

Canoa

 


O impacto da lei não é apenas financeiro: para ele, trata-se da destruição de uma tradição que passa de pai para filho. "É triste a gente não passar uma cultura, uma tradição que a gente tem de um segmento profissional”, alegou.


Quando a lei foi apresentada, o governo justificou a medida como necessária para preservar a fauna dos rios e fomentar o turismo da pesca esportiva. Em compensação, a administração estadual criou o “Repesque”, que consiste no pagamento de um salário mínimo mensal por 3 anos aos pescadores registrados, que comprovem a pesca como sua única fonte de renda.

 

Divulgação

Lourenço

 

Mas, para quem sempre viveu do rio, como Lourenço, essa ajuda está longe de ser suficiente. Além disso, os pescadores temem receber o auxílio do governo devido à insegurança jurídica e previdenciária associada ao benefício. Isso porque não há garantias de que o pagamento não impactará sua aposentadoria junto ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). O temor principal é que, ao receber o auxílio estadual, eles possam perder o direito ao Seguro Defeso, que é um benefício previdenciário pago pelo INSS.


“Eu não fiz e não tenho interesse de fazer. Até agora não há uma garantia que isso não impacte lá na frente. Para mim, que já estou perto de aposentar, tenho medo de fazer e correr esse risco”, disse o ribeirinho ao citar que já possui 37 anos de carteira assinada como pescador.


A situação vivida por pescadores é vista com críticas e indignação. O vereador de Cáceres, Cézare Pastorello, tem atuado na defesa dos ribeirinhos e alerta para os impactos negativos da nova legislação.

 

Divulgação

Pastorello

 

Segundo ele, a falta de clareza nas regras também cria insegurança. Para o parlamentar, a lei atende interesses econômicos, como a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), em detrimento dos pescadores e do meio ambiente.


“Então foi assim: ‘se o problema é ter o pescador no Rio, então vamos tirar o pescador e aí a gente faz as PCHs só aqui’. Para o alto Pantanal já são 180 projetos de PCH e isso vai acabar com o Pantanal, isso realmente vai acabar com os peixes. É apenas interesse econômico”, criticou.

 

A visão dos pesquisadores
A comunidade científica também critica a medida. O biólogo Claumir Muniz, doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), explica que a lei não tem base científica sólida. "Não há comprovação de que essas espécies estão, de fato, ameaçadas por sobrepesca. Além disso, ainda não foi definido como será monitorada a eficiência da lei para recuperar os estoques pesqueiros”, argumentou.


Ele ressalta que a crise na população de peixes tem mais relação com o volume de água e a qualidade do ecossistema do que com a pesca comercial. "A água contaminada por agrotóxicos e as mudanças no regime de cheias do Pantanal são fatores muito mais relevantes”, pontuou.

ROSINEI COUTINHO/SCO/STF

ministro andré mendonça

 

A esperança no STF
A legislação enfrenta contestações no Supremo Tribunal Federal (STF). Duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) questionam a validade da lei, sob o argumento de que fere o direito ao trabalho e a cultura tradicional dos pescadores. A Procuradoria-Geral da República (PGR) também se manifestou contra a medida.


Enquanto a decisão não vem, os pescadores de Mato Grosso seguem vivendo a incerteza de um futuro que, para muitos, parece cada vez mais distante do rio. "Minha esperança é que o STF derrube essa lei. Todos os órgãos sérios já disseram que ela não tem fundamento. Enquanto isso, a gente segue aqui, tentando sobreviver, esperando que a Justiça olhe para nós", desabafou Lourenço.

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