13.04.2014 | 00h00
Para entender o inegável sucesso de Capitão América 2 - O Soldado Invernal é necessário a compreensão do aspecto científico que motiva a Marvel. O estúdio busca pautar suas produções, enraizando-se no sentimento infantil das pessoas. A infância talvez seja a mais profunda expressão da memória afetiva, razão pela qual a Marvel vem sendo essencialmente freudiana.
’Ao meu quase cego ver’ o elemento fundamental da significação do filme que é a proposta de trazer o herói mitológico quase sempre distante da realidade, sem compromisso de temporalidade, para condição de personagem real próximo dos processos políticos de seu tempo. É sensato supor que o Capitão América foi posto na linha histórica. De tal sorte que, considera-se que o mito é individual, mesmo implicado nas relações de multidão e a pessoa é coletiva ainda que vista em relação individual, pois a tal relação, contraditória ou não, decorre de uma demanda social. Notar-se-á no filme a junção de heróis de outras histórias, juntados para dinamizar a provável ambiência social do herói/personagem protagonista.
Os personagens de história em quadrinho habitaram e ainda habitam o universo fantástico da doce cabeça de criança. Fenômeno que se torna fonte de uma possível energia vital, que é de suma importância aos momentos de dificuldade existencial do indivíduo. ’Ao meu quase cego ver’ é impossível suportar a trágica dureza da objetividade do mundo real, baseado nas verdades construídas, que, geralmente traduzem preconceitos e promovem egoísmos. Reserva energética humana que se acomoda nas possibilidades fantásticas, sem limite, próprias do universo infantil, passível de aceitar o personagem de mitologia e animação que não morre.
Sartre no livro ‘A palavra‘, fala da sua difícil orfandade paterna e a discriminação sofrida pela mãe viúva, sufocada pelo preconceito do avô materno que não aceitava nenhum tipo de mãe solteira em sua casa, sequer uma viúva. Trata-se de um período marcado por uma França vitoriana impregnada de vicissitudes da ordem patriarcal, fugindo de tal dominação, o filósofo Sartre vai morar no teto da casa do avô e lá se encontra com personagens estranhos ao cotidiano e seu desdobramento de poder. Com os mesmos Sartre se identifica e cria base para sua crítica literatura existencialista.
A capacidade de romper com a morte percebida nos desenhos animados e na literatura dos quadrinhos de super-heróis, possivelmente dá força para a criança inverter a ordem na dominação do mundo adulto. Comportamento da tenra idade que provavelmente se acomode na hermenêutica de Bakhtin, apontando para uma carnavalização infantil. A Marvel, aí, desenvolve-se na perspectiva de aperfeiçoamento, observado na ciência por métodos behavorita, enquanto elemento dinamizador de uma comunicação de possibilidades artísticas que se aproximam da identidade das pessoas. O Capitão América 2 - O Soldado Invernal se estabelece em uma imagética que leva em consideração as críticas, decorrentes da pesada ambiência dada pela técnica de efeitos especiais, que tem distanciado o cine-espectador do sentido afetivo percebido no cenário e na idiossincrasia do personagem. Neste filme o tal efeito especial tem uma carga menor que só aparece na sequência final do filme, diga-se de passagem, evitando qualquer tipo de excesso, que era costumeiro nas produções da Marvel. O objetivo deste estúdio é colocar o super-herói no plano real da vida, marcado por aventuras e desventuras. A presença dos irmãos Anthony Russo e Joe Russo, que dirigem o filme, responde a esta estratégia de naturalizar o sentido mítico do personagem protagonista.
A direção dos Russo constrói a significação de notáveis nuances de realidade da película. Linha de compreensão em que se observa um roteiro, escrito em quatro mãos, por Christopher Markus e Stephen McFeely, marcado por ambiências da discussão política própria de Washington, onde está sediada a Casa Branca. Essa dupla de roteiristas é a mais respeitada entre todos os roteiristas hollywoodianos. Cabe observar que, a despeito do ranço, de certa maneira, intelectualista dos cinéfilos pirronistas, insensíveis ao gênero, lamentavelmente, mal avisados nos conceitos revolucionários da estética não perceberam a delicadeza sofisticada da reconstrução axiológica, de um estúdio que não quer perder a liderança do mundo de Los Angeles; ainda assim o filme em voga não é ingênuo, trazendo questões fundamentais da discussão política do imperialismo americano e sua relação com o mundo.
Situação vista na sequência cujo Capitão (Chris Evans) questiona o excesso de segredo do serviço de inteligência, caracterizado por Nick Fury (Samuel L. Jackson), que lhe furta a liberdade prejudicando a todos; lembrando o problema do abuso da captação de informação pelos órgãos de inteligência em favor da suposta segurança, chegando às raias do desrespeito à privacidade e às soberanias nacionais, observado com Edward Snwden nas denúncias do Wikileaks, formando uma página lamentável na hegemonia americana.
O Capitão América, dos Russo demonstra também uma nova tendência da Marvel, sugerindo uma atuação mais ampla e menos individual dos heróis. Como se vê, por exemplo, em Homem de Ferro e O Incrível Hulk. De tal forma que a personagem Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), a Viúva Negra e o Falcão (Anthony Mackie) são reeditados na versão aqui tratada.
O filme narra a história de Steve Rogers, conhecido como Capitão América vivendo tranquilamente em Washington, bem como buscado se ajustar aos tempos modernos. Momento em que é informado que um colega da sua organização secreta S.H.I.E.L.D. é duramente atacado, Rogers se percebe em uma rede de celeumas e intrigas que colocavam o mundo a beira da fatalidade.
Desta maneira, Rogers uniu-se a Viúva Negra, então, o tal Capitão luta para desarticular a grande conspiração, mas enfrenta assassinos profissionais, que surgem para silenciá-lo a qualquer custo. No momento em que se revela o dimensionamento da trama, o Capitão e a Viúva buscam novo aliado, o Falcão. Em meio a muitas lutas o trio se vê enfrentando um inimigo formidável e inesperado, tratando-se do Soldado Invernal. Quadro dinamizador do trabalho, configurando-o em mais ações de tramas que persistem em apontá-lo para a realidade perseguida pelos anseios de renovação sociocultural do estúdio Marvel. Indubitavelmente os Russo dão um show de equilíbrio entre significante (forma) e significado (mensagem), usando um elenco impecável e bem dirigido. Os diretores não se deixam levar por afetações de estrelas conseguindo mantê-los presos ao chão delicado do trabalho duro de arte e técnica do set cinematográfico. Longe de ser o meu sonho leitor e ainda mais distante da minha vontade, mas não posso negar o estúdio Marvel, com Capitão América 2 - O Soldado Invernal renovou-se para ficar. Vale conferir. (Colaboração de Rafael Martine e Keila Oliveira)
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