06.12.2015 | 00h00
Parece-me que acontece algo de estranho no comportamento brasileiro. É provável que há alguns tabus, que são permitidos, somente na postura do mito. É sensato supor que, o ídolo guarda uma distância do comum que o idolatra. O seu encanto dá-se provavelmente na consubstancia do espaço que separa os pontos de localidade entre um e outro. Considera-se que aí quanto maior a distância mais forte se faz o mito, sendo maior ainda a sua permissibilidade Nietzsche acusa o Sócrates de furtar dos gregos a intensidade da vida, no processo de contemplação do mito.
Fenômeno visto no imaginário, na medida em que a mitologia sugere um dinamismo fantástico, que é elemento de controle na conduta da pessoa, visando suposta retidão nas relações existenciais, na sociedade diferencial, que por sua vez, revela-se esquisita mediante a diversidade.
As relações verticais de dominação encontram na ostentação uma afirmação do poder, caracterizado no patológico machismo com base em uma possível espécie de abstração de alegoria fálica. Evidente subjetividadeprecípua da hegemonia do euro-hetero-macho-autoritário. Percebe-se por exemplo, a verticalidade no trono, no cedro, no mastro, e até mesmo no dedo em riste dos poderosos.
A classe média no Brasil é formada por uma população, que inequivocamente se demonstra rica em qualquer lugar do mundo, razão pela qual a pequena burguesia é, aqui tão caudatária e chauvinista. Assis Chatobrian foi um grande empreendedor da comunicação, vivendo aventuras e desventuras, um trabalho da sua trajetória faz sentido, quando se mostra sua proposta e os conflitos decorrentes. Nota-se que uma análise de classe média vê, geralmente os triunfos escamoteando os conflitos, dados pelas maiorias minorizada, no processo político em voga.
Na produção artística o tratamento do burguês excêntrico cuja excentricidade está no vício acumulativo e fora das regras de quaisquer contratualísimo, é mera apologia classista. A construção da dominação acrítica tem sido própria de autores, destituídos de saberes sociológicos, ou sem compromisso com uma ética de justiça social.
Chatô - Rei do Brasil, de Guilherme Fontes está em conformidade com a abordagem em questão. A fama de ator global influenciou, talvez outras áreas, até mesmo burocráticas, concorrendo para a relação de prestígio. Prejudicando, com efeito, a suposta democracia cultural necessária para a construção de um cinema que expressa a participação democrática e o respeito diversidade, para além do difícil discernimento entre o público e o privado, nas republicas de países com forte concentração de renda.
Marx ensina que a burguesia faz a sociedade a sua imagem e semelhança. O cinema pequeno burguês mostra, somente os monstros que oprimem, fazendo-os engraçados e simpáticos. Contradição sociopsicológica que justifica, talvez o conceito de cidadão cordial, na escravidão brasileira onde o grau de crueldade não tem precedente histórico, em que o pai escravizava o próprio filho, mantendo-se no cativo a mãe; contrariando a escravidão clássica, quando o direito romano subsidiava as lacunas de direito, no Brasil colonial.
Faltou, por isto ’ao meu quase cego ver’ uma lente epistemológica que pudesse favorecer a crítica na realização do Fontes, que ficou a desejar no excesso de caricaturas desarticuladas em sequências de planos verticais, estranhos ao conflito que dinamiza o cinema de autor. O diretor parece cineasta orgânico da casa grande contemporânea, dono de um paroxismo senhorial, digno de causar espanto até mesmo no Gilberto Freire, autor de Casa Grande e Senzala, um clássico da sociologia, mas de visão monocultural, sugerindo que os escravos viviam em harmonia com a escravidão.
A direção de Guilherme Fontes revela excessivas nuances cênicas do teatro de revistas, em uma linha estética anacrônica, que seria incipiente mesmo na televisão. O elenco é formado por artista competentes, tais como: Marco Ricca, Paulo Betti, Andréa Beltrão, Leandra Leal e outros, que nem os inegáveis talentos salvaram o filme de tantas dificuldades na direção.
A ausência de uma realização competente fez água por toda parte, prejudicando o equilíbrio entre forma (técnica) e conteúdo (mensagem), fundamental ao cinema. A fotografia de José Roberto Eliezer, que por mais experiente que o seja, foi mais um talento isolado, mostrando ausência de conjunto cênico, na demanda fílmica (técnica).
O filme é frio e cansativo. Parece que desta vez nem a generosidade cinematográfica do roteirista e vereador Allan Kardec terá o alegre discurso para a triste realização do Chatô. A proposta de escolher-se por voto o representante de direção nos polos universitários das cidades do interior, da UFMT. Proposta de gestão acadêmica feita por João Carlos Maia, que vê o cinema como arte na possibilidade da tecnologia de inovação, não daria lugar ao Chatô, em razão do anacronismo.
Guilherme Fontes não convenceu ninguém. Seu filme parece uma colcha de retalho, tentando trabalhar o sonho como demanda cênica. Fontes não passou, neste caso infelizmente de um grande pesadelo, na difícil história da realização cinematográfica. O filme ficou muito aquém do talento biográfico, do respeitado Fernando Morais. Como cinema é debate vale a pena conferir. (Colaboração Rafael Martini e KeilaOliveira).
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