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Cinema - A | + A

10.08.2014 | 00h00

Vestido para casar

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A complexidade do sentido da mensagem no audiovisual resulta de um processo de elaboração obrigatoriamente marcado por complexidade. Na arte a forma é tão delicada quanto à mensagem que a mesma trás consigo. Abordagem reveladora do conhecimento do trabalho delicado da construção e o sentido profundo do construído, implicando todo significante, por natureza semiótica, tem um significado que lhe é intrínseco, na medida em que a linguagem em si se mostra enquanto forma em um inegável conjunto de códigos.
É sensato, dessa maneira, supor que a mensagem só é um significado na medida em que se consubstancia em um significante, sua forma, que por sua vez, sendo também, a sua linguagem. Tendo em vista que a interpretação é uma variante do conhecimento, diante de uma obra de arte cada indivíduo perceberá diferentes sentidos, mas o objeto, enquanto peça de arte continua a mesma. Bourdieu sugere, neste sentido, que há várias chaves de interpretação, quanto maior o numero dessa chave, melhor será apreensão do filotécnico. Mais rica, portanto, será a sua compreensão artística, da peça em voga.
A questão da interpretação é muito delicada. Há nas possibilidades hermenêuticas notar-se-á a possível espécie de intervenção subjetiva de um indivíduo na dimensão pública da arte, que lhe é alheia; impondo, no-la impressão pessoal. Comportamento tratado por Umberto Eco, no livro Obra Aberta, privilegiando o sentido pessoal que se é dá a na provável condição coletiva da arte, ou seja, sua exposição.
A possível intervenção interpretativa tornar-se, com efeito, inequivocamente, ainda mais complexa no cinema. Considera-se aí, no-lo, condição de mídia diferindo das outras expressões midiáticas. Diferença que se estabelece na condição de única mídia do audiovisual, que por natureza, atribui ao cine espectador à faculdade de intervir mudando o sentido das relações.
No cinema, segundo Agamben, o impossível torna-se possível e o acabado se faz inacabável, condição possível em razão do sentido histórico do cinema, que por sua vez, foi discernido em Gilles Deleuze, na sua clássica observação conceitual, do cinema movimento, na medida em que é histórico. Observar-se-á, então, por sua vez, que ’ao meu quase cego ver’, o cinema faz história; sendo uma arte com uma dimensão dialética, que, possivelmente, depreende-se na realização glauberiana. Visto que seu filmes chamaram atenção ao sentido da revolução, por meio de uma arte revolucionaria que se torno, indiscutivelmente, patrimônio nacional.
Quem busca no cinema uma trajetória, dada por vocação, fazendo-a com compromisso de ética social deve, ’ao meu quase cego ver’, encontrar em Glauber Rocha a referência para o cinema brasileiro. A minha observação, contudo, decorre da profunda inversão deste sentido, que percebo no filme Vestido pra casar, de Gerson Sanginitto, considerando-se que sua direção repousa no axioma da publicidade e assim se torna algo paradoxal à sétima arte.
Cabe lembrar que, nesse caso específico, a publicidade tem uma essência mercadológica, enquanto, a arte se compreende num sentido transcendental. Vale dizer, com efeito, que por razão, possivelmente teleológica são vetores que não se encontram. A arte e o mercado são antitéticos, combinação que não da certo, ficando esdrúxulo.
Esse discernimento elucida o show de fiascos toscos, que constituem a direção de Gerson Sanguinitto. Como aconteceu na sua direção em Vestido pra casar, um projeto de comédia que se buscava sério, apoiando-se na considerável capacidade artística de Hassum.
Situação que o prejudicou como humorista, deixando-o, ’ao meu quase cego ver’, sem graça diante de tantos erros do set de filmagem. Parece-me presepada de neófito. A contar, em primeiro lugar, pela responsabilidade atribuída, pelo diretor Gerson, cabendo-lhe, enquanto ator, o papel de centro das atuações e o suposto sentido dinâmico da provável periferia cênica. Atribuição emblemática que caracterizou a estratégia da direção do filme, que fez água afoga, de maneira fatal, o talento de Hassum.
Tendo em vista que as notáveis dificuldades fílmicas (técnicas) prejudicaram a desenvoltura cinematográfica (mensagem). Parece-me que, não era de se estranhar, pois, quando um publicitário insiste em fazer cinema, geralmente, o filme serve no máximo para vender pipocas. Comportamento que, ’ ao meu quase cego ver’, Sanguinitto levou ao paroxismo, na medida em que dirigiu a película com olhar de produtor, dando vazão ao que lhe é excessivo a cabeça de contabilista, sem a transcendência do sonho artístico fundamental ao diretor.
Parece-me que uma apostasia de anjos apolíneos o afetou e o vazio de ausência onírica foi ocupado por possíveis demônios da contagem da bilheteria. Vestido pra casar, com isso, talvez seja qualquer coisa menos arte, tão pouco ainda cinema.
De tal sorte que seu filme busca ser comédia, mas não da conta, ficando a desejar. O roteiro de, Celso Taddei, Claudio Torres Gonzaga e Audemir Leuzinger, é inflexível, sem espaço cômico criativo, cheio de clichê e lugar comum; prejudicando a mensagem do enredo, que se efetiva com notável inépcia, que leva a narrativa ao colapso. Vestido pra casar, de Gerson Sanguinitto é um tipo clássico de besterol, sem arte e acrítico. Aborda a historia de Fernando (Leandro Hassum) que era viciado em mentira, tinha convicção que uma mentira não faz mal a ninguém.
No afã de tanta mentira, o personagem protagonista transforma o dia do seu casamento num rio de confusões, envolvendo sua ex-mulher, sua noiva e o sogro. Envolve também o primo oportunista, um estilista, uma socialite deslumbrada, policiais e seguranças, que mais davam medo e insegurança, e um senador ciumento com sua mulher que o traia. Historia na qual à narrativa não tem estou de cinema.
O Gerson revela falta de referência nos magos que faziam verdadeira alquimia no cinema novo. Cineastas que criticavam a sociedade com acidez e delicadeza poética. Gerson Sanginitto não tem intimidade com os cânones da sétima arte. Faltaram-no, desse modo, habilidade e criatividade fundamentais à criação do sacro equilíbrio entre significado (conteúdo) e significante (forma), colocando o filme nas raias da incompetência.
Na tentativa de anular o elenco em favor do consagrado talento de Hussam, o diretor Gerson fere o conjunto cênico, subtraindo a dinâmica dramática vital à dramaturgia e, por fim mata seu próprio o filme, que tem complexo de comédia, sendo um mero drama sem graça, impregnado muitas trapalhadas na direção, infelizmente digno de riso. Vale à pena conferir. (Colaboração de Rafael Martine e Keila Oliveira)




*CONTEÚDO EXTRA : Vídeo

 

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