22.11.2015 | 00h00
Poderia ter sido uma tragédia. Guilherme Fontes filmava a famosa cena do encontro de Chatô e Getúlio Vargas no começo da Revolução de 1930. Chovia torrencialmente em Guapimirim e a cena envolvia um trem. Fontes havia conseguido uma velha locomotiva - que descarrilou. Marco Ricca só se lembra da imagem de Paulo Betti, que fazia Getúlio, dançando à sua frente. Todo mundo ria muito, mas aí a água começou a invadir o vagão. ‘Cuidado com a câmera! Salvem a câmera!‘, ele se lembra dos gritos.
‘Éramos bem jovens, e a gente se divertia muito. Esse cara (e Ricca está falando do produtor e diretor Guilherme Fontes) era um cara bonito, estava no auge, o Rei do Rio.‘ Os problemas vieram depois. Com apenas 28 anos, e nenhuma experiência prévia de produção nem direção, Fontes, num golpe de audácia, havia comprado os direitos de adaptação do livro de Fernando Morais sobre o lendário Assis Chateaubriand. O filme seria caro, e começou a sair do controle quando Fontes iniciou uma parceria com Francis Ford Coppola, trazendo o grande diretor para o Brasil. Foram realizados testes para todos os personagens e houve um momento em que Coppola participou da leitura aberta do primeiro tratamento do roteiro.
“Com tanto disse-que-disse nos jornais, milhares de centímetros de espaço em mídia suspeitando da produção” - informa o dossiê distribuído à imprensa -, “o projeto foi cassado em fevereiro de 2000 pelo governo federal e impedido de ser concluído por 15 anos.
As contas da produção foram ‘levianamente’ - é ainda o dossiê que diz - levadas a juízo no Tribunal de Contas da União pelo Ministério da Cultura. Resultado do TCU - o projeto teve as contas aprovadas pelos ministros por oito votos a favor e um de suspeição. Fontes endividou-se, concluiu o filme e, nesta quinta-feira, 19, Chatô estreia em 40 salas do Rio e São Paulo. Ele mesmo está lançando seu filme e, nas próximas semanas, até 10 de dezembro, espera ampliar o circuito até 150 salas em todo o Brasil.
“Teve gente que enfiou o dedo na minha cara, dizendo que havíamos destruído o cinema brasileiro”, lembra Marco Ricca, o Chatô. E Fontes: “Até agora tem gente que não se conforma que o filme seja bom como você diz”, o diretor fala do repórter que tomou a defesa de seu filme com outros críticos de prestígio. “O ideal pra todo mundo é que o filme fosse uma m... Iam poder destruir à vontade”.
Muito dinheiro público investido no projeto. Fontes provoca: “Contraí dívidas, mas não estou sozinho. Grandes empresas, inclusive de comunicação no Brasil, estão devendo os tubos. O que move o País é o dinheiro público, estamos vendo isso claramente nesse momento. Podem me acusar, mas para mim o importante é que o dinheiro está no filme, e o filme é bom”.
E por que ele escolheu Marco Ricca para ser Chateaubriand? “É simples, porque na época ele era jovem, desconhecido, e eu queria mostrar o meu personagem e não uma cara conhecida que seria identificada, ao invés do meu Chatô”, explica Fontes. E ele acrescenta que, em todas as etapas, do roteiro à realização e à montagem, nunca se preocupou com a fidelidade histórica. “Comprei os direitos, utilizo as informações do livro do Fernando (Morais), mas o Chatô dele é o real. O meu é fictício”.
Ricca exulta: “Desde o começo, esse cara (aponta para Fontes) sabia o filme que queria fazer. Fiz muitos filmes com diretores que iam descobrindo seus filmes, e o processo foi gostoso. Mas o Guilherme tinha o filme dele na cabeça. Na minha origem, sou historiador. Foi maravilhoso entrar na onda dele. O filme, ao contrário de outras biografias, assume que se trata de uma interpretação. Não é o Chatô, não é o Getúlio, mas a forma como o Guilherme os vê”.
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