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Cinema - A | + A

20.04.2014 | 00h00

Rio 2

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É provável que a sacralidade nas relações artísticas estabeleça-se no fator da distância inegável que a dimensão da arte tem com a demanda de mercado. Situação que decorre do fato de arte e mercado mostrarem-se antitéticos. De tal sorte que, quando se coloca o artístico no processo mercadológico notar-se-á inegável celeuma, que se caracteriza em uma possível crise de identidade na qual uma expressão é estranha a outra. Forma-se aí, dois terrenos distintos, em que as distinções configuram a contrariedade do sagrado e do profano.
 A sacralidade do artista implica na totalidade de corpo e de alma, sendo templo da sua temporalidade, no momento da produção e diante dela. Nos idos do início do século XVI, por exemplo, Da Vinci expressava projeção do criador na criação de Mona Lisa, perpetuando na originalidade a grandeza de pequenas delicadezas sacras, que se percebe, somente no valor intrínseco da arte. Situação pertinente ao sentido de uso no processo contemplativo necessária para a produção e também, para o seu cultivo. Um aspecto que talvez aponte para a expressão mítica da obra de arte é sua singularidade. A produção artística guarda na sua essência o sentido mais profundo do momento em que o artista a concebeu.
Por outro lado, o mercado é sedento por natureza da quantidade, visando o nexo causal do lucro, próprio da lógica cumulativa que o perpassa. Neste caso específico, uma abstração estranha ao limite objetal, ou seja, um valor do objeto que estabelece fora dele, formando o tal fetiche da mercadoria que indica o valor de troca, significado inconcebível para a arte, que quando no mercado é o objeto sempre visto fora do preço para o olhar do senso comum, ou é muito caro ou é muito barato. O preço da arte é sempre visto como absurdo, seja para mais ou para menos. Ousadia que segue em expressão como essas: tão pouco para tanto e tanto para tão pouco, etc.
A abordagem em questão pode ser vista na dificuldade cinematográfica, que implica o mundo hollywoodiano. Em primeiro lugar, que Hollywood tem um papel fundamental, na estratégia imperialista americana, que se caracteriza no maior centro empresarial da reprodução ideológica do colonialismo cultural de um país hegemônico e intervencionista. Diga-se de passagem, essa tal Meca do cinema de Los Angeles, assim como o seu próprio país também entrou em crise e como ele vem se recuperando. Notar-se-á, uma reconceituação da retomada orçamentária do filme, objetivando com o cinema alcançar em destaque todas as áreas que o tentáculo da hegemonia alcança. Não é por acaso que a tecnologia do movimento sintético, na tradicional animação trata de um país de geopolítica estratégica como é o Brasil, com brasileiros, mas com uma dinâmica estranha para o Brasil, porém compreensiva para as forças que norteiam o sentido da dominação entre nós.
Há três anos, a animação de Carlos Saldanha abordando a brasilidade pelo dualismo sociocultural do Rio de Janeiro, marcado pelo samba e pela favela teve excelente recepção, na medida em que a territorialidade sociocultural do empobrecido é maravilhosa para o turista rico, mas triste para a população pobre, que se vê como objeto do turismo, concomitante a marginalidade que o turismo lhe impõe. No entanto, Rio 2, de Carlos Saldanha fere a sua própria magia da originalidade, visto que o segundo filme em lançamento é continuidade do sucesso, que ’ao meu quase cego ver’, discutível do primeiro.
Saldanha imbuído das razões acumulativas da sorte financeira do seu filme Rio parece ter ido com tanta sede ao pote, que tropeçou, quebrando-o de tal maneira que feriu a singularidade do sentido da sua arte, reproduzindo o trabalho anterior no filme atual. Fê-lo, de modo que se deu mal, o salto dado da demanda antropológica da vida carioca para a questão ambiental da Amazônia, maior fonte de reserva natural do mundo e internamente, um celeiro de contradições que vai do ecológico a demanda fundiária, que o mundo também sabe disso, mas a realização do diretor esqueceu; tornando-se uma proposta de ode, configurado no vazio do lirismo plástico do cinema de computador insensível a vida de contradições da biodiversidade que marca a Amazônia.
’Ao meu quase cego ver’ o olhar do Saldanha tem uma lente construída nos interesses do suposto sucesso da Copa, que na véspera dela mesma não se cristaliza e, por sua vez, quem tomou este bonde do carnaval da alegria do hexa canarinho, no cinema vive agora, o problema da tristeza que a realização do filme encerra, ficando a desejar.
O apelo de um super elenco de dublagem, com Jesse Einsenberg, Anne Hathaway, Rodrigo Santoro, Jamie Foxx e outros, somado ao peso do maestro Sérgio Mendes e bruxo Carlinhos Brow; contudo, a cultura visual personalista dado pelas novelas televisivas torna-se pifo até a grandeza deste time estelar; e, intensifica ainda mais as dificuldades do filme. O voo da família de Blue, que vem dos Estados Unidos, parando no Rio e seguindo para a região amazônica mostra, sem dúvida, um show de riquezas naturais, colidindo com o excesso de musicais e coreografias na floresta, sugerindo ser o filme uma espécie de propaganda da Copa, que possivelmente Saldanha, já vinha articulando três anos atrás. A repetição imagética da estratégia cinematográfica, definitivamente, concorreu em detrimento da dimensão singular aponta para a originalidade, que é exigência sétima arte.
A apreensão ecológica do filme é epidérmica e a máquina musical e coreográfica de palco turístico teve a pretensão de ser maior que a biodiversidade amazônica, o filme não deu certo. Saldanha fez um filme de grande sucesso, mas de pequena inserção artística. Vale a pena conferir. (Colaboraram Rafael Martine e Keila Oliveira)

   
*CONTEÚDO EXTRA : Assista ao trailer oficial do filme na versão interativa www.gazetadigital.com.br
 

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