10.03.2024 | 08h00
Divulgação
Nesse estirão comprido que é a cultura brasileira, as diferentes regiões do país têm suas próprias peculiaridades linguísticas, as quais refletem não apenas a diversidade geográfica, mas também a riqueza histórica e cultural de cada local. Em meio a esse “chumaço” linguístico, o regionalismo cuiabano emerge como uma variação diatópica única e fundamental para a identidade da Baixada Cuiabana.
O “cuiabanês” é uma pepita de ouro! Tão valioso que não deve ser subestimado ou menosprezado, mas sim celebrado e preservado. Não há como descrever a sensação de reconhecimento quando ouvimos os versos “te deitchar apatchonada, quando ieu mostrar a maionese temperada” na música “Morena do Baguncinha”, cantada pelo personagem Xô Dito, interpretado pelo ator Tyago Mourão, ou ainda, os versos “Rasqueado em Cuiabá é só no rebuça e tchuça” na música “Rebuça e Tchuça” dos ícones Pescuma, Henrique e Claudinho.
Expressões como "tchuva" (chuva) e "dgente" (gente) podem ter suas raízes na influência espanhola, um vestígio histórico das interações culturais entre os povos da região. Da mesma forma, a presença da etnia Bororo contribui para a diversidade linguística, enriquecendo o léxico e a gramática do dialeto cuiabano. Você sabia disso? O seu falar é multicultural!
Uma das características marcantes do linguajar cuiabano é o uso de pronomes demonstrativos sem concordância com o sintagma nominal. Por exemplo, é comum ouvir frases como "Esse menina não veio aqui hoje" em vez de "Essa menina não veio aqui hoje".
Esse fenômeno, longe de ser uma inadequação gramatical, é uma expressão genuína da singularidade linguística cuiabana, uma manifestação autêntica da oralidade e da identidade cultural local, assim como nosso bolo de arroz e a nossa bocaiuva. Para aqueles que menosprezam ou, simplesmente, rechaçam, indico uma boa leitura do livro “Preconceito Linguístico” de Marcos Bagno.
Outro aspecto distintivo do regionalismo cuiabano é a utilização de construções sintáticas específicas, como na expressão "vou no mamãe" em vez de "vou na mamãe". Essas nuances gramaticais não devem ser encaradas como erros, mas sim como parte integrante da riqueza linguística da região. A nossa força está na diversidade, o que somos sem ela?
É importante ressaltar que há uma diferença crucial entre norma padrão, prescrita pela gramática, e linguagem coloquial, falada no dia a dia. Enquanto a gramática representa as regras formais de uma língua, a língua é viva, dinâmica e moldada pelas interações sociais e culturais. O regionalismo cuiabano é um exemplo perfeito dessa distinção, uma vez que incorpora elementos únicos que transcendem as fronteiras da gramática tradicional, refletindo a autenticidade e a identidade do povo cuiabano para o delírio dos gramáticos mais caxias.
Em um mundo cada vez mais globalizado, é essencial valorizar e proteger as manifestações culturais e linguísticas locais. O regionalismo cuiabano não é apenas uma variação linguística, mas uma parte essencial da herança cultural da Baixada Cuiabana. Ao abraçar e promover essa diversidade linguística, estamos fortalecendo não apenas nossa identidade regional, mas também enriquecendo o mosaico cultural do Brasil como um todo. É a língua cuiabana dando uma piscadinha para o resto do país, valorize-a!
Hélio Taques – É Prof. Me. de Língua Portuguesa, artista e escritor.
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Isadora - 12/03/2024
Perfeito texto! Ajojei e fiz compromisso com esse linguajar maravilhoso quando me mudei pra Cuiabá. Seus artigos são fundamentais, meu amigo. Belíssima descrição dessa parte da cultura que é a língua. Ou dessa parte da língua, que é a cultura :)
Maria das Graças da Silva Filha - 12/03/2024
Este artigo preciso fazer parte das nossas sala de aulas, a uma era que está para chegar ao fim, mas que devemos muito respeitar e valorizar este cuiabanês de chapa e criz todos nós oriundos de uma mesma pátria porém de uma pátria com múltiplas regiões de culturas diferentes. Parabéns Professor Me.Hélio Taques!
Eneida - 11/03/2024
Esse artigo com certeza valoriza muito a nossa lingua e nossa cultura da baixada cuibana. Fala-se muito pouco sobre isso e então nós mesmos não valorizamos. Gostei muito!
SUELI - 10/03/2024
Excelente professor, suas aula é um espetáculo Parabéns professor que Deus continue te abençoando na suas caminhada um grande abraço ❤️
Lucilene - 10/03/2024
Grande Helinho!!! Sem comentários! Sou suspeita!! Sou fã de seu trabalho e tudo que vem de você!!! E por traz de tantos talentos, temos um ser humano incrível, único, generoso, coração gigante e muito especial!!!
JEFERSON DE MOURA ARRUDA - 10/03/2024
Parabéns Hélio, lavou a alma do linguajar Cuiabano. " A cultura de um povo é o seu maior patrimônio, preserva-la é resgatar a história, perpetuar valores, é permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato ". Nildo lages
Márcia Bernardelli - 10/03/2024
Parabéns pela matéria!
Maria Jocenelda da Silva Oliveira - 10/03/2024
Parabéns ao ilustre Professor Hélio Taques.Que trabalho belíssimo ,uma herança para nossa futura gerações.
Júlio Dias - 10/03/2024
Sensacional, parabéns Helinho.
João B. Gonçalves Neto - 10/03/2024
Irretorquível. Brilhante. Apoteótico. Orgulho para nos cuiabanos e melgacenses. Ele nasceu e foi criado aqui. Árvores genealógicas paterna e materna pantaneiras puras.
20 comentários