lançamento na bienal 05.10.2024 | 13h10
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Nelly Winter é escritora, mato-grossense, sócio-fundadora da Editora Umanos, responsável por lançar um livro na 27° Bienal do Livro de São Paulo e também é a primeira drag queen escritora de Mato Grosso.
Sua trajetória na escrita se inicia com o projeto do livro “O Abuso”, durante a pandemia, e continua até hoje. Seu mais recente trabalho, o livro “Somos Coloridos - guia de letramento LGBTQIAPN+” foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo e também em uma seção com autógrafos no Cine Teatro, em Cuiabá, na última quarta-feira (02).
O #gd conversou com a escritora para conhecer a trajetória e os futuros caminhos de Nelly na escrita.
Gazeta Digital - Como você entrou no mundo da escrita? Qual a sua história nesse universo?
Nelly Winter - Eu faço drag desde 2001. Nos primeiros anos eu era animadora de festa e fazia uma média de 6 a 8 eventos por final de semana. Por 10 anos, eu falo que a drag pagava as minhas contas e o salário do escritório onde eu trabalhava era o meu lazer, até que em 2011 eu parei de fazer drag por conta da faculdade
Durante a pandemia eu comecei a escrever um livro chamado “O Abuso” que é um romance onde eu conto a história do pequeno Thomas, uma criança que é abusada sexualmente dos 5 aos 14 anos. Meu objetivo desse livro é conversar com pais e professores e mostrar que aquela criança pode estar sendo abusada sem ninguém estar vendo.
Quando eu apresentei a ideia para o meu editor, Leandro Doorneles, ele falou ‘Thon, ao invés de você assinar esse livro como Thon, porque você não traz a sua drag de volta e coloca ela pra assinar?’. Eu gostei da ideia mas achava algo muito distante ainda.
Então ele falou para eu ir publicando outras coisas antes de publicar “O Abuso”, e assim nós fizemos.
Em 2022 eu participei da Antologia Poética “Versa Bardos em Linhas” com poesias, que é um livro que eu fui censurada no lançamento, no Sesc Mato Grosso. Foi muito massivo isso na época e o que ficou muito claro foi que, para ter o lançamento no Sesc Arsenal, a Drag Queen, Nelly Winter, não poderia estar presente. Se ela fosse, não teria o evento.
Gazeta Digital - Além dessa situação passada, como é sua receptividade hoje em Cuiabá?
Nelly Winter - Hoje eu tenho muito cuidado e é planejado cada passo que eu dou quando eu estou drag queen. Eu evito lugares onde eu não sou bem-vinda.
Tem muitos lugares na cidade, por exemplo, que dependendo do convite, eu não vou. Porque a probabilidade de eu ouvir algo que eu não queira, ou que eu não goste, de ser insultada, é muito maior.
Gazeta Digital - O que significa para você ocupar o título de primeira escritora drag queen mato-grossense?
Nelly Winter - Eu ser a primeira drag queen mato-grossense tem um peso, porque as pessoas criam uma expectativa muito grande a cada projeto. “Somos Coloridos” é o meu primeiro livro individual assinado como drag. Eu tenho um livro publicado como Thon, mas como drag esse é o primeiro.
Existe também a expectativa sobre “O Abuso”. Como eu falo dele desde a pandemia, as pessoas querem ler.
Mas o que tem me dado mais trabalho, na verdade, não é nem publicar um livro e trabalhar na literatura e sim desmistificar que eu, enquanto drag, não preciso bater cabelo e nem estar nas baladas LGBT. Que realmente eu quero ocupar outros lugares.
Gazeta Digital - De onde veio a ideia de “Somos Coloridos”? Como foi seu processo criativo pra essa obra?
Nelly Winter - O Somos Coloridos é uma junção de situações em que eu vivi e que vi a necessidade de mostrar para o público não LGBT as nuances da comunidade.
O livro “Somos Coloridos” é literalmente um guia de letramento. Tanto que esse é o sub-título. A primeira coisa que eu falo, é o que essa sigla LGBTQIAPN+ significa, então eu venho falando o que é orientação sexual, identidade e expressão de gênero.
Eu tenho certeza que as pessoas que vão ler o “Somos Coloridos” podem não me conhecer, mas eu posso transformar o pensamento delas através da minha escrita.
Gazeta Digital - Como foi a sua escolha pela editora Umanos como casa editorial do seu lançamento?
Nelly Winter - Na verdade, eu faço parte da história da Umanus. Eu quanto Thon, sou sócio-fundador da Umanos. Hoje ela tem 13 anos de mercado e o que ninguém sabe é que nós começamos na varanda de casa em uma mesa de plástico, em 2011.
Não teve escolha Não teria como eu publicar por outra editora. Eu não trairia a minha própria editora e ninguém sabe que Nelly Winters é a sócio-fundadora da Umanos Editora.
Hoje eu sou muito grata à Umanos editora, porque eu falo que Nelly Winter escritora não seria nada sem a Umanos Editora. Eu sou muito grata aos lugares que ela me fez ter acesso.
Gazeta Digital - Qual é a importância, para você, de ter estado na Bienal do Livro de 2024 em São Paulo? O que significou estar nesse evento?
Nelly Winter - Eu espero muito que esse livro seja um agente transformador e que me leve a outros lugares. Tinham 3 drag queens na 27° Bienal do Livro de São Paulo e eu era a única de Mato Grosso. Eu falo que isso não tem preço, acessar esse lugar que parece ser tão inacessível para muita gente.
O que me enche mais ainda de orgulho é que eu fui convidada para estar lá enquanto uma drag queen, uma escritora de Mato Grosso. Eu estou acessando lugares que outras artistas não acessaram. E eu espero que usando o “Somos Coloridos” como ponto de partida, eu acesse outros lugares inimagináveis.
Durante a Bienal, eu chorei porque não era só o meu sonho. Era o sonho de outros escritores que estavam comigo, que achavam inacessível expor na bienal.
Eu chorei os 3 dias que estive no evento, por motivos diferentes, mas chorei os 3 dias. De felicidade, porque outras pessoas não tiveram a mesma oportunidade.
Gazeta Digital - Qual a história e decisão do lançamento ser realizado também em Cuiabá?
Nelly Winter - O evento de lançamento era pra ser exclusivo para 50 pessoas. Porém, vazou, tornou-se público e tivemos mais de 100 pessoas confirmadas.
Essas pessoas que confirmaram estar lá, são pessoas que realmente têm alguma conexão comigo, com o livro ou com os meus propósitos. Nesse livro específico eu fiz questão de fazer uma lista de convidados.
Eu sei que as pessoas que eu convidei foram porque elas vão disseminar o conteúdo desse livro e passar para outras pessoas. As pessoas que foram porque ouviram em rede social ou nas grandes mídias é porque também compram a ideia do livro.
Se eu pudesse definir o lançamento em uma palavra, seria afeto. É o que eu espero desse lançamento, afeto. É o que o meu público aqui me entrega.
Gazeta Digital - Além de “O Abuso”, o que mais se pode esperar dos seus lançamentos?
Nelly Winter - Estou escrevendo um projeto agora na Lei Aldir Blanc, que quero seguir essa mesma linha de “Somos Coloridos”. Um projeto de poesias que vai ser intitulado “Nossas cores”. Eu quero dar como se fosse uma sequência de “Somos coloridos”, porém em poesias. Trazer de forma poética isso.
O “Somos Coloridos” é para pessoas não LGBTs, mas para adultos. Em “Nossas Cores”, eu quero conversar com os adolescentes.
Já estamos também no planejamento da segunda edição, do livro Drag Queens, que vai ser “Do teatro aos reality shows”, com drag queens nacionais e internacionais. Então teremos Drag Queens vencedora de reality show internacional, nesse próximo projeto, que deve ser lançado em junho no ano que vem.
E o meu maior projeto de vida agora quanto drag é conseguir entrar na Academia Mato-grossense de Letras. A cada projeto que eu concluo ou sonho, ou objetivo, eu traço outro. Ocupar esse espaço vai abrir mais portas pra mim.
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