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Entrevista da Semana - A | + A

ENTREVISTA DA SEMANA 20.04.2025 | 09h55

Em meio a Páscoa, Arcebispo faz apelo para amor ao próximo e fim da violência

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João Vieira

João Vieira

Período do calendário católico marcado pela penitência, jejum e sacrifício, a quaresma, que antecede a Páscoa, é também tempo de esperança e renovação, como destaca o arcebispo da Arquidiocese de Cuiabá, Dom Mário Antonio. Em entrevista ao , o sacerdote destaca que o tempo quaresmal serve de reflexão para mudanças concretas de vida e aproximação com Deus, mas também de olhar com amor ao próximo. 

 

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Além da tradicional abstinência de carne e doces, o arcebispo recomenda o jejum da "língua" e de toda maldade. Ele demonstra preocupação com a crescente violência na sociedade mato-grossense, em especial as mortes de pessoas em situação de vulnerabilidade e dos feminicídios, e ainda, aconselha para a distinção entre 'verdadeiros profetas' e os 'mercadores da fé'.

 

Confira na íntegra a entrevista ao .

 

Gazeta Digital - Embora seja tradição milenar da Igreja Católica, ainda hoje muitos católicos e cristãos desconhecem o real significado da Páscoa da ressurreição, reduzindo a uma simples troca de ovos de chocolate. Em um mundo tomado pela perda de tradições em uma cultura homogeneizada da globalização, como a igreja tem feito para resgatar os fieis especialmente neste período?

 

Arcebispo Dom Mário - Uma das formas de resgatar os nossos fieis é convidar para as participações das celebrações, sobretudo na Páscoa. Temos o que chamamos de Tríduo Pascal, que iniciamos na Quinta-Feira Santa, indo até o Sábado Santo. São três momentos celebrativos: na quinta a ceia do Senhor, a sexta da Paixão e Morte de Jesus Cristo e no sábado, a Vigília Pascal da Ressurreição.

 

Temos a oportunidade de perceber e celebrar e aviventar o verdadeiro significado da Páscoa. O banquete, a ceia, acompanhado até de ovo de Páscoa, são símbolos que podem ajudar na celebração, mas não é o principal, mesmo que o comércio valorize isso por suas razões. Nós, na questão da espiritualidade, valorizamos como ponto central a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

 

Gazeta Digital - Mesmo cada vez mais raro, ainda hoje é comum ouvir frases como “Não, obrigada, estou ‘de quaresma”, “não vou beber pois estamos na quaresma”, ou ainda “não estou comendo doces na quaresma”. Nem todos praticaram a penitência, os atos de caridade e abstinência ao longo dos 40 dias. Mesmo que o fiel tenha falhado neste período, ainda é possível estabelecer uma conexão com Deus durante ou após a Páscoa?

 

Arcebispo Dom Mário - A conexão com Deus é sempre possível. Não obstante o pecado, o desvio e os erros. Evidentemente a conexão é para não permanecer num caminho que nos desvia a Deus, mas que nos aproxima dele, porque ele sempre vem ao nosso encontro. A Páscoa é esse tempo oportuno de que Deus venha ao nosso encontro e que espera que a gente, de boa vontade, vá ao encontro dele para permanecer o ano todo. Um dos sinais de que as pessoas demonstram essa vontade, são sacrifícios, renúncias, penitência.

 

Tem muitas pessoas que fazem realmente o propósito de deixar de lado a bebida, uma comida favorita, doces, isso é muito importante. Eu sempre digo ‘faça um propósito que você tenha condições de cumprir’, para não ficar frustrado. Só que isso tem que ir além do material. Tem que atingir o espiritual. A gente diz que se faça o jejum, a abstinência de carne. Ótimo. Mas também doar aquilo para as famílias pobres. A Sagrada Escritura aconselha a fazer jejum da língua, da maldade, da injustiça, da opressão. É isso que vai nos manter não só na conexão com Deus, mas Deus dentro de nós.

 

Gazeta Digital - Embora a igreja propague uma mensagem de esperança e fé, vemos ainda hoje um mundo tomado pelo ódio, a divisão e a violência em todas as esferas. Olhando internamente para a nossa cidade vemos pessoas em situação de vulnerabilidade padecendo diante da fúria, da intolerância e da insegurança inclusive no período quaresmal. Como transformar essa realidade em um momento em que a vida é tão banalizada?

 

Arcebispo Dom Mário - Isso corta o coração da gente. Como dizem: "Morre mais um”. É mais um que está na marginalização, na escravidão, opressão. Às vezes ignoramos aqueles que vão para as drogas, a prostituição, que incorrem em situações de violência.

 

Precisamos administrar a nossa vida no aspecto da ira. Quando não administrada, ela vira mágoa, ódio, vingança e através das violências até mesmo mortes e assassinatos. Hoje, mais do que nunca, a gente precisa de obras de misericórdia, sociais, seja por parte da igreja,  instituições civis, governamentais, jurídicas. Olhar a vida do ser humano com possibilidade de resgate, com esperança.

 

A verdadeira vida cristã não ignora os sofredores. Não ignora aqueles que hoje são crucificados pela sociedade, senão até pelas religiões. Por isso, estamos num tempo oportuno de reflexão e de ação. Basta a toda e qualquer forma de violência, inclusive a violência contra as mulheres, e estarrecedora a realidade do feminicídio em nosso Brasil, inclusive no nosso estado do Mato Grosso!

 

Precisamos combater toda e qualquer violência dentro e fora dos nossos lares, em qualquer canto da nossa sociedade ou até mesmo em nossas comunidades religiosas e apontar um caminho novo, do amor, compreensão, reconciliação, verdade, justiça. Um caminho que não se consegue fazer sem a presença de Deus no coração.

 

Gazeta Digital - Assim como as passagens bíblicas citam menções a fariseus, os que pertenciam a grupo religioso e detinham a interpretação das leis que regiam a vida dos judeus, e ainda hoje este termo ficou associado à pessoas ‘hipócritas’ e orgulhosas. Como distinguir nos dias atuais os verdadeiros profetas dos chamados mercadores da fé?

 

Arcebispo Dom Mário - Essa é uma realidade que preocupou muito Jesus Cristo. Em uma cena bíblica, Ele está diante de um grupo de fariseus que apresentam uma mulher, surpreendida em adultério. Pela lei, ela deveria ser apedrejada. Na verdade, pela lei, deveria ser apedrejado também o homem, mas ele não é apresentado na cena, somente a mulher. E Jesus não executa a lei friamente.

 

Quem executaria a lei diria: ‘Tá ótimo, tá provado o adultério, então deve ser apedrejado’, mas Jesus olha a condição da mulher, valoriza a vida. Os hipócritas, os fariseus da época de Jesus, tinham a lei na mão, mas não tinham misericórdia no coração. Uma lei na mão sem misericórdia é uma pedra que machuca, fere e até mata. Por isso, os hipócritas também de hoje são aqueles que, às vezes, tem a lei na mão, mas não tem misericórdia e amor no coração.


O verdadeiro profeta anuncia a boa nova, a esperança e denuncia o mal e a injustiça dos mercadores, dos compradores de fé, daqueles que querem lucro, fama e sucesso. Hoje necessitamos da profecia da boa nova, que anuncia o bem e que denuncia o mal e a injustiça mesmo com a consequência da morte, como aconteceu com Jesus Cristo.

 

Gazeta Digital - A bíblia nos fala que Jesus voltará “como o ladrão que vem de forma inesperada”, uma metáfora. Em sua visão, se Jesus voltasse hoje e encontrasse a Terra em seu atual estado, o que ele diria?

 

Arcebispo Dom Mário - O retorno de Jesus é certo. A imagem bíblica, é surpreendente. Como o ladrão, que evidentemente é uma metáfora, uma figura de linguagem para dizer que o retorno de Jesus é surpreendente. Não tem dia e nem hora marcados. Ainda bem, porque, imagine se já estivesse marcado a vinda de Jesus para mim daqui 3 ou 4 anos? A gente começava a se apavorar. Mas olha, ele nos dá todo esse tempo para a nossa chamada conversão.

 

Jesus não quer apavorar ninguém. Ele quer nos dar uma chance a cada dia e a cada momento na nossa existência. Para Deus, um minuto de conversão é valioso para salvar uma vida. Não que a gente deva viver fazendo mal e deixar para o último minuto fazer o bem. Por isso é feliz quem vive desde já fazendo bem, porque ganha sentido e significado na sua vida. Por isso a insistência da Sagrada Escritura na conversão, na mudança de vida e de permanecer na graça do Senhor, fazendo o bem, amando a todos.

 

Gazeta Digital - Passado o período da festividade da Páscoa, e naturalmente a retomada das atividades da vida cotidiana, como manter viva a espiritualidade ao longo dos próximos meses?

 

Arcebispo Dom Mário - Não podemos viver a Páscoa como um evento. Ela deve ser um processo que permanece e se prolonga. As celebrações que temos agora na Semana Santa, elas às vezes até são um pouco longas, mas mais do que longas, elas têm que se prolongar na nossa vida, na mentalidade, na vivência da celebração, do mistério da redenção. Permanecer no nosso dia através das nossas atividades de amor, de misericórdia, de justiça, na prática dos mandamentos, na vivência das bem-aventurança, através dos nossos propósitos.

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