Ressonância não é única alternativa associada à mamografia, aponta mastologista

A polêmica em torno do veto ao projeto de lei que previa a oferta de ressonância magnética associada à mamografia para mulheres com mamas densas dominou os debates na Câmara de Cuiabá nesta semana. Com 14 votos favoráveis ao veto e 10 contrários, a base do prefeito Abilio Brunini (PL) impediu a implementação da proposta, sob alegação de inconstitucionalidade e impacto financeiro. O episódio gerou críticas da oposição, que acusou a base governista de agir por motivações políticas.

Diante disso, o ouviu a mastologista Fabiana Muniz, que explicou a importância do exame de ressonância magnética em alguns casos, mas ressaltou que ele não é a única alternativa para mulheres com mamas densas. Segundo a especialista, a mamografia associada ao ultrassom de mamas e axilas já garante um diagnóstico eficiente, com menor custo e boa sensibilidade para detecção de tumores.

Veja a entrevista abaixo:

1 - Qual a importância da ressonância magnética associada à mamografia para mulheres com mamas densas?

A ressonância magnética é uma importante ferramenta para o diagnóstico de lesões mamárias em pacientes de alto risco e com mamas densas. Essas pacientes de alto risco seriam as pacientes com mutações genéticas para BRCA 1 e 2. Pacientes que tinham tiveram radioterapia prévia no tórax entre os 10 e os 30 anos, se tornam um alto risco por conta disso também. E a ressonância é interessante associada à mamografia para detectar lesões cancerígenas ou lesões iniciais, ou avançadas independentes em pacientes com mamas densas. Só que ele é o único exame capaz de fazer essa detecção desses nódulos eh malignos? Não, existe a mamografia associada a ultrassom de mamas que também tem seu valor e com o valor de menor custo do que a realização de uma ressonância magnética.

Então, é possível fazer um diagnóstico usando mamografia associada a ultrassom de mamas e axilas por um menor custo para a rede pública, utilizando esses exames de menor custo do que a ressonância magnética. A associação de mamografia com mamas Ela também é eficaz na detecção de câncer de mama em pacientes com mamas densas.

2 - A mamografia, sozinha, é suficiente para diagnosticar casos de câncer de mama em pacientes com mamas do tipo C ou D, segundo a classificação BI-RADS?

Em pacientes, com mamas densas, somente a mamografia não é suficiente para detectar lesões de câncer de mama em todas as pacientes. Daí lançamos mão da ultrassonografia de mamas e axilas que quando associada com a mamografia tem um valor diagnóstico superior apenas ao uso da mamografia. Então é importante em pacientes de mamas densas associar também o ultrassom de mama as axilas.

3 - Na prática, o SUS já oferece a ressonância magnética como exame complementar nesses casos, ou o acesso ainda é restrito?

A indicação de ressonância magnética, ela tem algumas indicações restritas: como a discordância entre o resultado de exame de mamografia e ultrassom, na eminência de um diagnóstico de malignidade na paciente. Também tem indicação de fazer pacientes com mutação genética BRCA 1 e 2 para o rastreamento e controle do diagnóstico dessas pacientes. Também tem indicação de fazer ressonância magnética quem teve radioterapia de tórax prévia, que é uma coisa que não é tão comum.

E também tem indicação de fazer a ressonância magnética de mamas, algumas pacientes ou todas que vão fazer um planejamento pré e pós-quimioterapia neo adjuvante, ou seja, antes e após a quimioterapia para comparação e avaliação para verificar se esse tumor regrediu ou não durante o tratamento da quimioterapia antes da cirurgia. Então essas são algumas indicações que a gente tem para a ressonância magnética de mamas, tá? E isso deveria ser avaliado. Então, é possível realizar um tratamento de câncer de mama hoje pelo SUS usando apenas mamografia e ultrassom? A resposta é sim, é possível.

4 - O que pode acontecer com a saúde das mulheres se esse exame não for disponibilizado de forma ampla na rede pública? Até hoje trabalhamos pela rede pública usando mamografia e ultrassom e nem por isso as pacientes deixaram de ser atendidas e operadas. É claro que a ressonância magnética é uma ferramenta importantíssima, tem seu valor, mas não é por isso que as pacientes devem, é, deixar de realizar o seu tratamento quando indicado para câncer de mama porque não conseguiram realizar um exame na rede pública que seria ressonância magnética de mamas.

Então, o que pode acontecer com essas mulheres, se esse exame não for disponibilizado de forma ampla da rede pública, se ela procurar e conversar com o seu médico, ela não vai ter prejuízo do seu tratamento, se ela fizer a mamografia, ultrassom de mamas e axilas. Ela vai dar andamento no seu tratamento e vai ser operada, enfim, vai ser acompanhada da mesma forma como vinha sendo feito antes da disponibilização da ressonância magnética pelo SUS. Então, nada disso, se de repente não conseguir essa a realização desse exame, isso não quer dizer que ela não vai ter o seu tratamento garantido, isso quer dizer que ela não vai ter um prejuízo do seu tratamento quando isso já está planejado, tá? Isso pode ser feito pelo SUS através da mamografia, ultrassom de mamas e axilas, tá? E que ela sempre procure orientação do seu médico mastologista. De maneira nenhuma haverá atraso de tratamento porque não conseguiu fazer uma ressonância

5 - Quais seriam os principais avanços para a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama caso o exame fosse garantido por lei municipal?  

A ressonância magnética das mamas, ela tem uma alta sensibilidade para detectar tumores iniciais em pequenas dimensões, mas ela tem uma baixa especificidade, que significa que ela é muito boa para identificar tumores, uma sensibilidade maior que 90%, mas ela pode classificar também incorretamente algumas lesões benignas como suspeitas, gerando uma confusão no diagnóstico, e isso também acarretando biópsia desnecessária dentre outras situações caso a ressonância magnética de mamas não seja bem indicada e aplicada. Então, existem os prós e os contras, do uso da ressonância magnética, tá? Em caso nos casos de câncer de mama.