MODA SUSTENTÁVEL 02.04.2023 | 16h28
redacao@gazetadigital.com.br
Chico Ferreira
Na contramão das grandes lojas de departamento e sites com produtos baratos e qualidade duvidosa, os brechós incentivam o consumo sustentável e representam um setor em grande crescimento em Cuiabá. 'Garimpando' é possível encontrar verdadeiras preciosidades a um valor amigo entre as araras e amontoados de roupas novas e usadas expostas nestes espaços. Paciência e olho clínico são requisitos para o sucesso das compras.
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Em contrapartida aos inúmeros anúncios e vídeos de "recebidos" que estimulam o consumo e endividamento, há o movimento que prega o “guarda-roupa coringa”. Este modelo incentiva o indivíduo a ter peças atemporais, que combinam entre si e atendam às necessidades cotidianas.
Ele também tem o apelo sustentável, que vai além da compra de peças que não poluam o meio ambiente desde a sua fabricação. Comprar roupas que já foram de outras pessoas é uma forma de sustentabilidade.
Em Cuiabá, empreendedores têm se destacado no ramo da moda sustentável. É o caso da Sibele de Souza, 32, que há quase 3 anos inaugurou seu brechó online (@brecho.dabel), que conta com quase 4 mil seguidores no Instagram. Ela contou, em entrevista ao , que a loja nasceu da necessidade de obter renda durante a pandemia de covid-19, que começou em 2020.
“Fui dispensada da loja que eu trabalhava e, nessa loucura que foi [a pandemia], eu e minha irmã juntamos os nossos desapegos e postamos nas redes sociais. Usei o conhecimento que tinha de marketing da loja onde trabalhava. Vendemos tudo. Daí que surgiu o brechó. Eu comecei a ir para bazar, comprar peças de fora e nós demos continuidade”, conta.
Sibele é formada em arquitetura, mas não atua na área. “Hoje minha fonte de renda é só ela [a loja]”, afirma.
Ela relata que seu público é composto por mulheres jovens, de 25 a 30 anos, que gostam das peças que estão em alta.
“Nós procuramos utilizar esse processo para fazer uma corrente do bem. Nós não compramos de terceiros, de pessoa física, só compramos de bazares beneficentes e de outros brechós para fomentar mesmo. Onde tem bazar, eu vou”, disse.
Na mesma direção, mas com foco em outro público, as crianças, estão Aline Ferruci, 36, e a sua mãe, Maria Lidionete, 62. Proprietárias do Brechó Casinha da Vovó (@brechocasinhadavovo), localizado na Rua Coronel Evaristo, nº14, quadra 5, no CPA I.
Em entrevista, Aline contou que ela e sua mãe começaram a visitar bazares beneficentes e acharam o negócio promissor.
“Nós começamos a frequentar alguns bazares beneficentes e nos interessamos pela questão da sustentabilidade, do retorno das roupas. Nós resolvemos montar um infantil”, relatou.
A empreendedora disse que não vive apenas da renda do brechó, ela e a mãe têm outros ganhos.
O Brechó Casinha da Vovó está no mercado desde 2017, lá é possível levar as roupas que não servem mais nas crianças e trocar por outras. As peças passam por avaliação que gera um crédito na loja.
Segundo Aline, o retorno é bem rápido, principalmente por se tratar de roupas de crianças em constante crescimento, além da economia que os pais podem fazer ao adquirir peças de segunda mão. Os preços vão de R$ 1 a R$ 100.
“O giro é bem rápido, igual enxoval e roupinhas de recém nascidos, vem roupas que são novinhas, às vezes as roupas foram usadas uma vez ou nem isso. Roupa de festa também, que são usadas uma ou duas vezes. A questão financeira também compensa muito, porque, por exemplo, um vestido que uma mãe vai pagar R$ 300 em uma loja, aqui ela vai pagar R$ 50,00 ou R$ 70,00”, finalizou.
Amanda Carvalho, 29, é mais uma das jovens que empreendem por meio do brechó em Cuiabá. A dona do Jinga Brechó (@jinga.brecho) relata que iniciou seu negócio em um dos momentos mais difíceis da pandemia.
“Comecei quando estava gestante do meu segundo filho, em torno de 37 semanas. Comecei no Instagram para vender as peças. A princípio o intuito era porque eu estava desempregada na pandemia e só meu companheiro trabalhava, e aí eu decidi abrir o brechó”, comentou.
Atualmente, o Jinga é uma segunda renda para a Amanda, que também é servidora municipal na área do serviço social.
A empreendedora também falou sobre a importância do Brechó em sua vida. Ela acredita que a moda é uma forma de revolução e resistência e por se tratar de uma mulher negra, sempre traz isso por meio de suas roupas.
“Significa bastante. A moda para mim é um ato político e aliar isso ao sustentável se torna ainda mais. É uma pauta política. Tem muita roupa que tá aí produzida, que estão no lixão, que ninguém está acessando e as pessoas ainda continuam produzindo roupas. É uma coisa bem política, que envolve você estar ligado a questão ambiental. Olhar para a questão do trabalho escravo. Quem são as mulheres que produzem essas roupas? Quanto elas ganham? São mulheres brancas? São mulheres negras? A maioria são mulheres negras de comunidade, de bairros periféricos que produzem uma mão de obra muito barata. Então nós temos que repensar”, destacou.
Juliana de Souza, 20, contou que também começou a empreender quando estava gravida, aos 15 anos. Ela é proprietária do Encontrei (@encontrei__), que conta com mais de 6 mil seguidores.
“Eu comecei quando engravidei na adolescência, eu tinha 15 anos quando engravidei. Como eu ainda estava estudando e não queria deixar os estudos de lado, e aí eu decidi empreender. Não foi a primeira coisa que fiz. Sempre garimpei em bazar, por questão financeira mesmo, mas eu decidi garimpar mesmo para brechó e na pandemia comecei a nichar de fato”, afirmou.
Hoje, a Juliana vive apenas do Brechó, sua única fonte de renda, que lucra por volta de R$ 10 mil por mês, mas investe cerca de 4 mil mensalmente. Diferente da maioria, o público dela é voltado para mulheres que usam tamanhos plus size. Ela faz envios para todo o Brasil.
Juliana reiterou que o Brechó e a moda sustentável significam possibilidades para ela, que viu sua vida mudar através do que obteve por meio de suas vendas.
“Para mim, significa possibilidade. Pessoalmente, eu vi como conquista de sonho, me abriu muitas portas, me trouxe para uma realidade que eu não me imaginaria. É uma forma de trazer para pessoas como eu, uma mulher gorda, a possibilidade de consumir de forma consciente e gastando pouco, encontrando sua numeração, se sentindo confortável com o que está vestindo”, declarou.
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Milho Disponível
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Algodão
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Boi à vista
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Soja Disponível
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