Realidade no Brasil, mãe solteira de 4 filhos relata esforço

Mais de 80% das crianças têm como primeiro responsável uma mulher e 5,5 milhões não têm o nome do pai no registro de nascimento. Os dados são de pesquisas dos últimos anos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não se chama “força feminina” ou “instinto materno” quando a sociedade impõe que mulheres devem criar os filhos e cuidar da casa.

Neste cenário, se encontra Andreza Santos Araújo, 23, que foi abandonada pelo companheiro com 4 filhos. Sozinha, ela conta com doações e ajuda de voluntários para criar o filho mais velho, de 4 anos, e os trigêmeos, de um ano e meio.

Ela tinha acabado de retornar da Defensoria Pública quando recebeu a reportagem do em sua casa, no bairro Solar do Tarumã, em Várzea Grande. Ela levou a documentação das crianças para pedir vagas em uma creche integral, para que possa voltar a trabalhar. Como são pequenas, é impossível Andreza ingressar ao mercado do trabalho e cuidar delas ao mesmo tempo.

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“Tiraram xérox de tudo, pra conseguir pros quatro vagas no integral, e aí vou conseguir dar uma respirada. No primeiro mês, eu só quero dormir”, disse, rindo. Ela não teme ser julgada pelo comentário, ainda mais que está praticamente dois anos sem dormir, já que os três pares de pés na sua barriga incomodavam as costelas, e ela tinha que dormir sentada.

Chico Ferreira

 

Hulk, o cachorro vira-lata, brinca na areia em frente da casa, que servirá mais tarde para fazer um cômodo maior na residência – eles dormem todos juntos. “Meu sonho é fazer um quarto maior, porque eles dormem tudo em cima de mim. Eu estou com a coluna doendo, porque é um na minha cabeça, outro no peito, um na barriga e quando você olha o pé tem outro ali também”.

Visivelmente cansada, ela suspira: “minha história é longa”. Ela relembra quando saiu de Aracaju (SE) junto com o então companheiro. Após Pedro completar 4 anos, ela descobriu que estava grávida dos trigêmeos Olavo, Otávio e Adriana, mesmo tomando anticoncepcional todos os dias.

“Foi um susto, um desespero ao mesmo tempo. Morando de aluguel, o pai deles desempregado e eu também. Eu chorei mais de desespero... Foi uma mistura de sentimentos. Ele não parava de rir, teve uma crise de risos por 3 dias. Só acreditou quando viu a ultrassom, com 3 bebês”, conta.

Chico Ferreira

 

A princípio, ele era um bom pai e ajudava a cuidar dos filhos. Porém, logo começou a dar indícios de que poderia ir embora. “Quando tinha febre (as crianças) ele levava no hospital, cuidava, e eu ficava com os outros três. Quando adoeciam, era ele pra tudo, era um bom pai do jeito dele. Mas, acho que pela dificuldade financeira, e por recebermos doações, acho que ele não se sentia bem. Meio que se sentia incapaz e envergonhado. Não o julgo, Deus o proteja”, comenta.

Antes dos trigêmeos completarem um ano, o ex-companheiro partiu para Sergipe e nunca mais deu notícias, tampouco manteve contato. Andreza não julga o pai de seus filhos, mas analisa que, se fosse homem, teria mais responsabilidade para lidar com a vida.

“Seria mais responsável, mais ativo. Mais compreensivo, ia ser mais tudo do que o pai deles. Eu tenho que ser o pai, a mãe, a avó... Meus filhos são carentes de avó”, disse. A jovem não tem parentes em Mato Grosso e conta com a solidariedade de amigos que fez no Estado.

Apesar das mazelas, ela relata que seu sonho é voltar a trabalhar e cursar uma faculdade de Direito. Por ora, o que a jovem mais precisa, é ampliar a casa, que conseguiu receber pelo programa Minha Casa Minha Vida. Mesmo contando com R$ 200 do Bolsa Família, ela vive com pouquíssimo dinheiro, já que R$ 100 são destinados à parcelas da casa.

“Cada um sabe o que pensa. E estamos ai, Deus me dá forças, e quando não dá eu tomo remédio”, e ri, esquecendo por um breve momento do cansaço.