07.12.2015 | 00h00
A teoria elaborada pelo cientista político Samuel P. Huntington e denominada Choque de Civilizações postula que as identidades culturais e religiosas dos povos serão as principais fontes de conflito no mundo pós-Guerra Fria. Para Huntington os conflitos de grandes proporções não ocorrerão entre as classes sociais e sim entre os povos pertencentes a diferentes entidades culturais e religiosas
A estarrecedora expansão das ações terroristas do Estado Islâmico para além do Oriente Médio neste ano, como foram a explosão do avião comercial russo em 31 de outubro e os simultâneos ataques ocorridos em Paris em 13 de novembro, faz ressurgir o pavor do mundo ocidental com o fantasma do radicalismo islâmico e atualiza as advertências de Huntington sobre o Choque de Civilizações.
Na teoria formulada por Huntington, havia o risco iminente de uma colisão entre as nove civilizações, classificadas como Ocidental, Islâmica, Confuciana,Budista, Africana, Eslavo-Ortodoxa,Xintoísta-Nipônica, Hindu e Latino-Americana. O conflito entre estas culturas tão distintas seria inexorável em razão das profundas diferenças entre as civilizações, especialmente quanto aos valores e princípios de cada uma destas sociedades. Huntington, no entanto, enfatiza o abismo cultural entre a civilização Ocidental e a Islâmica, contexto no qual se insere o califado proposto pelo Estado Islâmico.
O califado aspirado pelo Estado Islâmico reivindica um território que não se resume ao mundo árabe, é um projeto que se alastra até o Mediterrâneo, abarca Roma -o centro do cristianismo- e se estende para o resto do mundo.Não há dúvidas: a agenda política jihaddista é um programa teocrático-absolutista extremamente perigoso para a humanidade pois não reconhece a existência do outro. Nesta concepção ultraortodoxa, o Califa é o sucessor da autoridade política e religiosa do profeta Maomé, e o único legitimamente reconhecido pelo ‘Al Corão’ a governar.É esta doutrina, denominada salafista-wahabita, que tem sido a corrente de inspiração dos terroristas da Al-Qaeda, Frente Al-Nusra e Estado Islâmico.
O que parece ser o aspecto mais grave e assustador sobre o Estado Islâmico é que vários europeus foram convertidos ao extremismo e estão colaborando como terroristas dentro e fora do continente europeu, o que impõe um desafio gigantesco para os aparatos de inteligência. É precisamente esse contingente de extremistas que está sendo utilizado em ataques terroristas como os que ocorreram em Paris na sexta feira 13 de novembro. Em realidade, os atentados em Paris inauguraram uma nova fase de atuação do Estado Islâmico, que passa a realizar ‘ataques grandiloquentes’, como aqueles perpetrados pela Al-Qaeda quando derrubou com aviões de cruzeiro as Torres Gêmeas em Nova Iorque na data de 11 de setembro de 2001.
O choque Islã-Ocidente é um risco cada vez mais considerado em razão das minorias fanáticas e de uma profunda ignorância mútua que predispõe à desconfiança. A sensação de desolação e medo causadas pelos gravíssimos ataques na capital francesa nos levam a indagar: Huntington estaria certo?
Daniel Almeida de Macedo é Mestre em Direito Internacional pela Universidade do Chile e pesquisador na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
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