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Daniel Almeida - A | + A

23.01.2017 | 00h00

Pós-verdade

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O significado de verdade refere-se ao que é totalmente sincero e correto, representa a expressão exata da realidade e contém a mais pura veracidade. Todo o conjunto de processos mentais que operam na psique humana para o reconhecimento, compreensão e julgamentode pessoas, fatos e acontecimentos ocorre com base naquilo que se apresenta como supostamente autêntico e verídico. A verdade representa um conceito central na tradição judaico-cristã e permeia integralmente as Sagradas Escrituras. ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará‘, João 8:32.
A importânciae o valor que se atribui ao que é verdadeiro estão sendo relativizados nos dias atuais. Estaríamos entrando na era da pós-verdade e do pós-fato, em que a verdade permanece intacta, ou seja, não é falsificada, ou contestada, mas sua importância é diminuída. Em outras palavras, a pós-verdade é a informação que é transformada e cristalizada para satisfazer a crenças e desejos como parte de uma metodologia de customização da verdade. É um fenômeno que já está mudando o comportamento e valores em relação aos conceitos tradicionais de verdade, mentira, honestidade e desonestidade.
Segundo a revista The Economist, o mundo contemporâneo estaria substituindo os fatos por indícios, percepções por convicções, distorções por vieses. Estaríamos nos despedindo da dicotomia tradicional entre certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto, fatos ou versões, verdade ou mentira para ingressarmos numa era de avaliações fluidas, terminologias vagas ou juízos baseados mais em sensações do que em evidências. Há fartas evidências de que a distorção da verdade está se definindo como um padrão social em toda parte. Segundo a Oxford Dictionairies, a palavra vem sendo empregada em análises sobre dois importantes acontecimentos políticos: a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e o referendo que decidiu pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia, apelidada de ‘Brexit‘. Ambas as campanhas fizeram uso indiscriminado de mentiras, como a de que a permanência na União Europeia custava à Grã Bretanha US$ 470 milhões por semana no caso do Brexit, ou de que Barack Obama é fundador do Estado Islâmico no caso da eleição de Trump. Muitos decidiram crer em mentiras e relativizar verdades para legitimar suas decisões.
É certo que a dicotomia clássica entre verdade e mentira já não é suficiente em num mundo cada vez mais complexo e diverso. Por outro lado, a avalanche de informações geradas pelas novas tecnologias de informação e comunicação também amplia o número de versões e abordagens sobre um mesmo fato, o que poderá relativizar alguns conceitos e postulados. A ampliação do debate é positiva para o desenvolvimento. No entanto, muitos se aproveitam da complexidade dos fatos para criar a pós-verdade, que nada mais é que uma pseudo-verdade, apoiada em indícios, convicções maniqueístas e verossimilhanças. Na esteira deste movimento, plataformas como Facebook, Twitter e Whatsapp favorecem a replicação de boatos e factóides que são compartilhados por conhecidos, aumentando a aparência de legitimidade das histórias. Sobre tudo isso ainda chegam os memes, que sob o ilusório manto do humor, potencializam a desinformaçãoe a ironia, quando não humilham ou desqualificam uma pessoa, um grupo, um pensamento.
Se antes a mentira era mais evidente e criava uma falsa visão do mundo, agora a verdade, à revelia dos fatos e da própria realidade, é transmutada por preconceitos e sentimentos difusos para se transformar em uma nova verdade, a pós-verdade. Seja lá qual for a nomenclatura utilizada na atualidade, a verdade que não comporta mácula de falsidade é única verdade existente, é a única verdade que liberta.

Daniel Almeida de Macedo é Mestre em Direito Internacional pela Universidade do Chile e pesquisador na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
 

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