04.11.2016 | 00h00
Em diversas comunidades tradicionais, particularmente as indígenas, existe uma tradição na medicina local que usa como tratamento ou prevenção de doenças a prática de arranhar partes do corpo da pessoa. Conforme explicam os moradores mais antigos dessas comunidades, trata-se de uma forma de curar machucados como torções ocorridas nas pernas ou nos braços. Mas também entre alguns povos indígenas é usado como uma forma de enrijecer os membros e tornar a pessoa mais forte.
Esse procedimento é realizado com objetos como pequenas varinhas de bambu que são passadas na pele, provocando arranhões e possibilitando a saída do sangue em pequena quantidade, nos locais em que a pessoa sente alguma dor. Com isso elimina-se o que chamam de sangue ruim, proporcionando uma melhora significativa da dor que está sendo causada por algum machucado. Também afirmam que esse procedimento proporciona proteção para o corpo contra diversas doenças relacionadas a dores e inflamações.
Outra forma de realizar o que na antropologia chamamos de escarificações, ou seja, quando são feitos arranhões ou pequenas incisões na pele do corpo humano com algum objeto até que saia pequenos filetes de sangue, são as arranhadeiras, muito comum entre os índios que vivem na região do Xingu.
A arranhadeira consiste num pedaço de cabaça ou madeira, cortado geralmente na forma de um triângulo, sendo que em um dos lados são fixados com resina dentes retirados do peixe da espécie conhecida como peixe-cachorro. É muito comum a presença desse objeto nas aldeias da região, sendo usado para o tratamento de doenças, mas também é tido como uma tradição cultural na medida em que as pessoas são arranhadas em determinadas partes do corpo para ganhar força ou beleza estética, como por exemplo, os meninos que a partir dos cinco anos de idade tem os pulsos e as pernas a baixo do joelho arranhados para que adquiram força quando forem adultos, tornando bons lutadores e caçadores. Nas meninas são arranhadas as pernas, na parte da cocha, para que fiquem com as pernas grossa e bonita.
O procedimento de arranhar o corpo é realizado por pessoas que tem o domínio da técnica e comumente uma pessoa faz na outra, por se tratar de uma prática perigosa e que requer habilidade. Também existem algumas regras ou restrições, como não se deve arranhar homens ou mulheres que tenham filhos pequenos, porque pode fazer mal para a criança. As pessoas mais velhas relatam que essa tradição tem sido passada ao longo de gerações e que eles fazem uso cotidiano como forma de evitar doenças e manter a saúde do corpo.
Elias Januário é educador, antropólogo e historiador . Escreve às sextas-feiras em a Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br
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