23.12.2016 | 00h00
No texto anterior encerramos ressaltando que esse tema consiste num paradoxo, exatamente pelo fato de que não nos cabe aqui, acharmos que as comunidades tradicionais devam ou não ter acesso aos benefícios da modernidade, como no caso a energia elétrica, mas temos a intenção de destacarmos os pontos que foram elencados pelos moradores dessas comunidades, problematizando e oportunizando a reflexão sobre essa situação que tem ocorrido ao longo das últimas décadas.
Percebemos que a chegada da energia elétrica nas comunidades tradicionais provocou e continua provocando as mais variadas reações por parte dos moradores, que difere muito de uma geração para outra, com maior resistência por parte dos mais velhos, que são enfáticos na rapidez com que as mudanças começam a ocorrer com a instalação da energia elétrica, seja no cotidiano das pessoas, na organização social ou mesmo nas mudanças do espaço físico da comunidade, isto é, o fato de ter iluminação no período noturno ocasionou alterações como aulas à noite, que para alguns é positivo, pois evita a saída dos jovens para estudar na cidade e para outros é ruim pois o período noturno era destinado em especial para rituais, caçadas e pescarias.
Um aspecto que é notório é a tensão na relação entre os jovens e os mais velhos, após a chegada da energia elétrica, pois a televisão passa a fazer frente, especialmente no período noturno, ao momento das reuniões onde os anciãos contam os mitos, ensinam os cantos e narram histórias contadas de uma geração para outra.
Outro foco de tensão consiste nas festas que, em sua maioria, eram realizadas por meio de cantos ao som de instrumentos produzidos pelos próprios moradores, passam então em algumas comunidades a serem realizadas com aparelhos de som eletrônico.
Temos a percepção quando reunimos falas de pessoas de idades diferentes, que em algumas comunidades tem começado um distanciamento entre as gerações, o que tem ocasionado a dificuldade em transmitir os elementos sociais e culturais que marcam a identidade de cada povo. Por outro lado, a energia elétrica tem possibilitado, em particular aos jovens estudantes, a pesquisa e o registro de uma infinidade de práticas culturais seja na forma de vídeo ou livros, que contribui para a manutenção das tradições ao longo das gerações, bem como a socialização.
Poderíamos destacar inúmeros aspectos que nos foram relatados como sendo positivos e outros negativos em relação a instalação da energia elétrica em comunidades tradicionais, no entanto, trata-se de mais um dos dilemas que fazem parte do mundo moderno e que as comunidades terão que lidar, refletindo sobre o que representa em termos de mudança social e cultural, buscando caminhos que conduzam a uma forma de conciliar tradição e modernidade em meio a esse processo paradoxal.
Elias Januário é educador, antropólogo e historiador. Escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br
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