10.02.2017 | 00h00
Entre as comunidades indígenas a realização e a manutenção de tradições, particularmente relacionadas à cultura e à organização social, são partes integrantes das atividades cotidianas e um elemento fundamental para o fortalecimento da identidade enquanto grupo social. Os índios Irantxe, que atualmente vivem na região noroeste de Mato Grosso, com a maioria das aldeias localizadas no município de Brasnorte, nas proximidades do rio Cravari, são um exemplo de resistência e luta para manter as tradições de seu povo.
Esta etnia passou por um processo físico e simbólico extremamente violento após o contato com os não indígenas, que deixou marcas profundas na sua organização social e cultural. No entanto, conseguiram ao longo dos anos manter práticas culturais importantes como rituais, danças, artesanatos, alimentação, mitos, entre outras, que tem sido imprescindível na organização enquanto grupo culturalmente diferenciado.
Com base em relato das pessoas mais antigas das aldeias, podemos saber que antes da chegada dos colonizadores os Irantxe viviam em pequenos grupos, com uma liderança que orientava as atividades das famílias no que se refere as ações cotidianas. As aldeias tradicionais tinham a forma circular e as casas construídas usando cipó do mato e palha de inajá, com a presença de um grande pátio no centro onde eram realizados diversos rituais e festas tradicionais com os homens caçando animais para a alimentação, enquanto as mulheres preparavam a chicha e o beiju. Os mais velhos contam que a grande maioria desses rituais eram feitos em agradecimento aos elementos da natureza, principalmente no período de plantio e colheita das roças, ocasião em que realizavam também os ritos de passagem dos adolescentes que estavam em reclusão, onde ocorria a preparação para ingressar na vida adulta.
Com a finalidade de expressar os sentimentos de alegria ou de tristeza, eram tocadas pelos homens as flautas de taquara, feitas pelos mais velhos, acompanhada por danças realizadas pelas mulheres e crianças. Esses rituais prolongavam por vários dias e noites, com farta alimentação de carne de animais e chicha de batata e mandioca. Pinturas corporais, faciais, adornos e cantos complementavam e proporcionavam uma rara beleza a esses momentos em que a comunidade celebrava a vida e o fortalecimento espiritual do grupo.
Com o passar dos anos e o contato sistemático coma sociedade envolvente, mudanças significativas aconteceram no cotidiano desse povo, que resiste e busca manter as tradições de seus ancestrais, mesmo em meio a presença cada vez maior de não indígenas e a proximidade das grandes fazendas no entorno de suas terras. Trata-se de uma luta árdua para manter, em meio ao avanço tecnológico e as ressignificações abruptas, práticas culturais que são como eixos estruturantes da identidade desse povo.
Elias Januário é educador, antropólogo e historiador. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br
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