Uso sustentável das palmeiras 2

Na primeira parte do texto iniciamos uma discussão sobre a importância do uso da palmeira da espécie denominada buriti, no cotidiano das comunidades tradicionais do estado de Mato Grosso, em particular os povos indígenas, revelando aspectos dessa espécie vegetal e sua relação com as práticas culturais e sociais. Dando continuidade a essa reflexão, vamos falar um pouco de como tem acontecido o manejo sustentável do buriti, evitando assim o seu desaparecimento.
Essa palmeira tem influência direta na atividade de caça, pois suas flores e frutas são consumidas por mamíferos como o porco queixada, a anta, o caititu, a irara e diferentes espécies de macacos, além das aves como a arara, o papagaio, o jacu, entre outras. O buriti, que forma grandes concentrações nas proximidades dos lagos, igarapés e rios, serve ainda de alimento para inúmeros peixes como o piau, a matrinchã e o pacu.
Do tronco do buriti são retiradas as toras usadas nas corridas de homens e mulheres, uma prática cultural de algumas etnias, bem como na confecção de utensílios como o ralador de mandioca e de brinquedos para as crianças. Para essa finalidade a palmeira e cortada e derrubada por inteiro, como também foi derrubada em grande quantidade na fase de contato com as expedições colonizadoras, que utilizavam para fazer pontes em pequenos córregos e também na construção de balsas para transporte de pessoas e equipamentos nos lagos e rios devido a sua propriedade flutuante.
Semelhante as demais plantas essa palmeira produz folhas e delas depende para sobreviver, mesmo sendo uma espécie bem resistente à coleta das folhas novas, chamado pelos indígenas de olho do buriti, de onde se obtém as melhores fibras, o corte de todos os brotos leva à morte da palmeira. Percebendo essa situação e a consequente diminuição das áreas de buriti ao longo dos anos, os moradores dessas comunidades passaram a não cortar todas as folhas, numa forma de manejo sustentável, para que possam sempre ter o material fornecido pela palmeira, evitando assim que a planta acabe morrendo.
A percepção dos povos indígenas em relação à importância do uso sustentável dessa espécie de palmeira faz atualmente parte do conjunto de saberes tradicionais, que são transmitidos às novas gerações, sendo de fundamental importância para a preservação do meio ambiente local, bem como da manutenção de inúmeras práticas culturais que estão diretamente relacionadas ao buriti. Ainda que nessas comunidades a transmissão do conhecimento ou a aprendizagem aconteça na prática, no exercício da atividade, a educação escolar é um caminho importante por onde tem sido repassado esses conhecimentos, por meio do processo de ensino e aprendizagem, contribuindo consideravelmente para a reflexão acerca do manejo sustentável das palmeiras, em particular a da espécie buriti.


Elias Januário é educador, antropólogo e historiador. Escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br