03.07.2015 | 00h00
Estimados leitores, vamos conhecer um pouco de uma instigante prática cultural realizada por alguns povos indígenas que vivem no estado de Mato Grosso, que consiste na corrida de tora de buriti. Tomaremos como referência a etnia Xavante, que tem essa corrida como uma prática sistemática na sua cultura.
Pertencem ao tronco linguístico macro-jê e à família linguística jê, cuja autodenominação é ‘A’uwê’ que significa gente verdadeira. Formam comunidades que vivem tradicionalmente da caça, pesca e coleta no meio ambiente local.
O buriti tem sido de grande importância no cotidiano do povo Xavante, sendo utilizado de várias maneiras como o tronco para a realização da corrida de buriti; as folhas para fazer a cobertura de casas ou cestos grandes chamados de ‘baquité’, os galhos são usados na produção de artesanatos, a fruta do buriti é apreciada e consumida em abundância pelo povo Xavante
Por volta do ano de 1954, quando se estabeleceu efetivamente o primeiro contato com as missões religiosas, e concomitantemente o estabelecimento dos internatos para crianças e adolescentes, o impacto social e cultural atingiu níveis elevados. Em parte decorrente das doenças pelas quais foram acometidos com um número expressivo de óbitos, por outro lado pelo intenso processo de assimilação das práticas culturais dos não índios e consequentemente o abandono das tradições de seus ancestrais.
Os Xavante possuem regras na organização de uma corrida de tora, que conta com a participação masculina e feminina, sendo a tora, que é obtida do tronco do buriti, pesa aproximadamente 80 quilos para os homens e cerca de 50 quilos para as mulheres. Nesta corrida, disputada entre os dois clãs, os quais estão divididos o povo desta etnia, consiste basicamente numa competição entre pessoas de cada metade oposta, numa clara demonstração de rivalidade, força, habilidade, diversão e resistência física, uma das características marcantes deste povo.
A corrida ocorre por meio do revezamento da tora entre as pessoas de cada uma das duas equipes opostas, de um ombro para o outro, num trecho de 8 a 10 quilômetros até chegarem no pátio da aldeia.
Durante o percurso da corrida de revezamento, cada integrante de sua equipe esforça-se ao máximo, com a tora de buriti sobre os ombros, até passar ao outro membro da equipe, sempre do mesmo sexo, ou seja, os homens realizam uma corrida e as mulheres outra, evitando deixar que a tora caia no chão, pois a equipe que chega primeiro é a vencedora da corrida.
Mais do que uma disputa divertida entre os clãs, que conta com a presença de todos os integrantes da comunidade, seja como participante ou expectadores, consiste em uma atividade esportiva favorita dos Xavante, bem como uma forma de afirmação da identidade cultural, na medida em que a realização da corrida de tora de buriti demanda toda um sistema de regras, normas, pintura corporal e trabalho coletivo estabelecido pelo grupo social.
Elias Januário é educador, antropólogo e historiador. Escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br
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