11.09.2015 | 00h00
Dando continuidade à nossa conversa caros leitores, sobre tintas tradicionais e pintura corporal entre o povo Bakairi, entendemos no texto anterior todo o processo de extração das cores vermelho, preto e branco retirada do meio ambiente local, que são usadas nos traços e formas feitos no corpo de homens e mulheres por ocasião dos rituais e festas tradicionais.
Devido à riqueza de detalhes tanto, na obtenção das tintas como nas diversas formas de pintura, vamos discorrer hoje sobre a pintura feita nas pessoas do sexo feminino, ficando para o próximo texto a pintura especificamente realizada nos homens.
Considero importante destacar que a história deste povo foi marcada por sucessivas migrações, onde grande parte das famílias vieram da região do rio Xingu. Tiveram inúmeros conflitos com outras etnias e com os colonizadores que adentraram na região onde hoje habitam. Coube ao antigo serviço de proteção ao índio a tarefa de pacificação e ordenamento deste povo nesta região de serrado, onde tornaram hábeis criadores de bovinos.
Retomando as informações sobre a pintura corporal, as mulheres desta etnia usam pintar o corpo em período de festas. Conhecida pelo nome de ‘pacuzinho’, os traços dessa pintura representa o peixe denominado de pacu, comum nos rios da região, retratando as suas escamas, as nadadeiras e os seus espinhos. Representa ainda a beleza e a agilidade deste peixe.
Outro destaque na pintura corporal das mulheres são os traços da cobra sucuri, marcado pela beleza dos desenhos geométricos que existe no corpo deste animal, muito comum nos rios e lagos das aldeias. Para os indígenas, essa é uma pintura considera forte e deve ser usada apenas em momentos de ritual, pois acreditam que a pessoa ao ser pintada com os desenhos existentes no corpo deste réptil, adquire a sua força, podendo inclusive encontrar uma cobra desta espécie e pegá-la, sem que a mesma provoque algum ferimento.
Existem também pinturas que representam insetos como a borboleta e a libélula. No caso da borboleta a pintura representa uma grande quantidade delas reunidas no tronco de uma árvore. Já a da libélula retrata apenas as asas deste inseto, com as inúmeras formas geométricas existentes.
Uma pintura que chama muito a atenção pela beleza dos traços na forma de losango é a que representa o morcego, sendo retratado quando está parado, pendurado em trocos de paus ou no teto das casas, por isso a pintura é feita paralelamente em todo o corpo da pessoa.
As aves também são retratadas no corpo das mulheres, onde os traços mostram partes do corpo como o bico, no caso da ave conhecida como Mutum, ou mesmo as diferentes formas de plumagem existes em pássaros da região.
Existem outras pinturas corporais que são feitas nas mulheres, todas elas retratando as formas geométricas encontradas na fauna local. Essa representação na forma de pintura é fundamental na cultura deste povo, pois consiste numa forma de expressão artística e percepção das diferentes formas geométricas existentes no meio ambiente em que estão inseridos, além de importante referencial na formação e manutenção da identidade enquanto povo indígena.
Elias Januário é educador, antropólogo e historiador. Escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br
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