Do Nordeste brasileiro para a Califórnia

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Nascida em Cerro Corá no interior do Rio Grande do Norte, Clija Chait foi criada por seus avós e foi com eles que aprendeu sobre a gastronomia nordestina e a respeitar a comida, reaproveitar tudo que um alimento proporciona. Segundo ela, a comida mudou sua vida e foi determinante para ser o que é.

Todos esses ensinamentos, conhecimentos e resiliência ajudaram e ajudam a empresária durante a pandemia da covid-19 e agora com a guerra na Ucrânia, que provocou uma disparada nos preços e uma inflação desenfreada também nos EUA.

Hoje, casada e sócia de Bill Chait - renomado restaurateur - está à frente de mais de 20 empreendimentos nos Estados Unidos e Coreia do Sul, entre restaurantes, bares, loja de vinhos e padaria.

Entre as casas inauguradas mais recentemente estão o Caboco, primeira dedicada à gastronomia brasileira, cujo sócio Rodrigo Oliveira - chef do restaurante paulistano Mocotó - dá uma ideia do conceito. E o Fannys, restaurante e café do The Academy of Motion Picture Museum, ou Museu do Oscar, em Los Angeles.

Ela conta que a definição do conceito do Caboco foi um processo muito longo e que fazer essa adaptação a gastronomia brasileira para o paladar dos americanos foi bastante complicados. Embora não haja preconceito, conta ela, as pessoas não conhecem nossa comida e é preciso ensinar aos clientes a saborear nossa delícias.

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Nesse processo, capirinhas, dadinho de tapioca, moqueca, frutos do mar, carne de sol e tantos mais estão com uma apresentação diferenciada para conquistar os consumidores. Segundo a empresária, a resposta tem sido ótima e as metas, mesmo sendo altas, estão sendo atingidas. Quando pensamos no Caboco, levamos muito em conta os brasileiros, mas de um modo temos um conceito para atender a todos os públicos que estão na cidade. Los Angeles é um lugar cosmopolita, diz Clija.

Ela lembra que, durante muitos anos, a gastronomia brasileira nos Estados Unidos era restrita a churrasco e feijoada e que as pessoas eram ensinadas a acreditar que era só isso. Hoje, o consumidor é curioso, quer saber mais, quer conhecer tudo, falar com os chefs. Além disso, destaca, a gastronomia brasileira tá ganhando muita força e esse é só o começo. Nomes como Manu Bufara, Alex Atala e tantos outros vêm fazendo uma revolução e trazendo muita coisa nova e boa, diferenciada.

Em dezembro de 2021, o casal de empresários inaugurou um dos mais ousados e importantes empreendimentos de suas trajetórias, o Fannys, restaurante e café, cuja proposta foi minuciosamente trabalhada durante 5 anos. O empreendimento tem um estilo que remete à velha Hollywood e traz um cardápio multicultural durante o dia e uma cozinha americana no jantar, assinados pelo chef francês Raphael François.

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O local é composto por vários ambientes, incluindo 2 salas de refeição; uma ala separada para até 130 pessoas, onde acontecem eventos diversos; uma mesa vip para 9 comensais; uma sala privada para até 18 pessoas - muito utilizada por estrelas do cinema e do show business -, mesa do chef, estrategicamente posicionada em frente à cozinha.

Clija considera essa parceria como um dos maiores presentes da vida de uma mulher nordestina como ela, crescida numa casa de chão batido.

E o caminho foi longo, mas percorrido com a garra e a força de vontade dos nordestinos, segundo ela, um povo porreta, dedicado, que veste a camisa. O que todo nordestino precisa é de uma oportunidade, constada.

Aos 15 anos ela mudou-se para a capital Natal, onde teve seu primeiro contato na área da gastronomia trabalhando em bares, fazendo e servindo coquetéis, depois começou a atuar na parte administrativa da gestão de restaurantes.

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Aos 24 anos foi morar em São Paulo, cidade que lhe abriu um mundo de possibilidades nesse ramo. Na época, trabalhou na administração das empresas e gestão de restaurantes italianos.

Em 2016, mudou-se para Los Angeles onde fez um curso de extensão em contabilidade na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e após dois anos e meio estudando, começou a atuar na administração das empresas do casal.

Depois de quase seis anos no exterior, Clija conta com grandes chefs em seus restaurantes, muitos deles com estrelas Michelin. A cozinha de seus estabelecimentos percorre os quatro cantos do mundo e ela posiciona-se como uma empresária de sucesso.

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Amo fazer o que faço e trazer a comida nordestina para os EUA é um privilégio e foi uma grade coisa. Trazer um pouco do que a culinária brasileira tem como: o arroz de leite, a buchada de bode, a feijoada, a moqueca e muito mais para uma cultura completamente diferente, é desafiador e ao mesmo tempo prazeroso. Sempre que apresentamos um pouco da cultura brasileira e nordestina, senti que foi acolhida, respeitada e prestigiada. As pessoas são curiosas, estão sempre buscando o novo e dando oportunidade aos pequenos e grandes restaurantes. De certo modo nossa gastronomia é bem diferente do que eles estão acostumados, mas eles recebem os sabores e texturas sempre muito bem, afirma.

Com voz tranquila e suave, Clija fala numa chamada de voz pelo WhatApp na manhã desta quinta-feira, 20: a comida me levou a lugares que nunca imaginei. A comida para mim é vida.

Como tal, ela diz que uma de suas minhas paixões é cozinhar, de forma despretensiosa, para os amigos. Nestas horas as receitas se concentram na culinária brasileira/nordestina, italiana e espanhola. Gosta de fazer e comer cuscuz, massas e pratos à base de arroz, como a paelha. Quanto ao ingredientes que não pode faltar, cita dois: amor e especiarias.